por Zé Roberto Graúna
Em julho de 1990, quando atuava como artista gráfico no Sindicato dos Petroleiros –
entidade que por alguns anos foi comandada pelo intrépido Ronaldo Cabral Magalhães,
o “Ronaldo Petroleiro” – eu estava nas oficinas gráficas do jornal Tribuna da Imprensa
para acompanhar a impressão de um dos tabloides da entidade. Na época, muito antes
da tecnologia digital, os jornais eram montados artesanalmente em papel, depois eram
gravados em fotolitos para a produção das chapas de zinco e posterior impressão nas
máquinas rotativas. Nós deixávamos as artes das páginas com os funcionários da gráfica
e ficávamos aguardando a finalização dos fotolitos para aprovação final e impressão.
Isso levava cerca de quarenta minutos, e como não havia muita coisa para fazer do lado
de fora do jornal, que ficava na Rua do Lavradio, no Centro do Rio, resolvi percorrer a
redação para ver se encontrava alguém conhecido para jogar conversa fora. Não
encontrei ninguém do meu círculo de amizades, mas acabei descobrindo um rapaz numa
mesa cheia de desenhos. Me aproximei e o jovem apresentou-se como Adolar, e estava
atuando como caricaturista no jornal dirigido por Hélio Fernandes. Conversamos por
uns 30 minutos, tempo suficiente para perceber que o desenhista tinha talento de sobra
para a arte da caricatura. Depois de me mostrar um monte de ótimos desenhos e explicar
que gostava de usar caneta hidrocor, nos despedimos e, antes de me retirar, o cartunista
sacou de uma pasta uma interessante caricatura onde se vê Mané Garrincha recebendo
no céu o cronista João Saldanha, que havia falecido dias antes, e presenteou-me com o
lindo desenho, arte que foi publicado na capa do jornal Tribuna da Imprensa no dia 13
de julho daquele ano, um dia após a morte de “João sem medo”. Feliz da vida com o
valioso presente, voltei para as oficinas da gráfica para concluir minhas obrigações.
Formado pela Faculdade de Comunicação Social e Jornalismo, da Universidade Gama
Filho, Adolar de Paula Mendes Filho chegou a jogar futebol, em 1977, nas divisões de
base do Vasco da Gama, seu time do coração, mas ele era mesmo um craque do lápis e
desenhou uma bela trajetória como caricaturista. Começou profissionalmente, em 1988,
quando publicou ótimas caricaturas de jogadores de futebol e outras personalidades do
esporte na capa do Jornal dos Sports; mais adiante passou, como vimos acima, pela
Tribuna da Imprensa, mas logo transferiu-se, em 1991, para o jornal O Dia; dois anos
depois foi o vencedor do concurso para revelação de novos talentos, tradicionalmente
realizado pelo jornal Folha de S. Paulo, passando a atuar com sucesso em São Paulo.
Aliás, em Campinas, existe uma famoso restaurante especializado em culinária italiana,
o Lellis Tratoria, que mantém há anos uma rica coleção de caricaturas de celebridades
decorando o ambiente, entre as quais alguns ídolos do futebol, são mais de 500
caricaturas criadas pelo Adolar. Um recorde absoluto. Infelizmente, o talentoso artista
faleceu prematuramente em 2021, aos 59 anos, após lutar arduamente contra um câncer.
Deixou esposa, Srª Ivaldete Luna e três filhos.
Para apreciação do talento do genial Adolar, exibo a estupenda arte com Garrincha e
João Saldanha que circulou com destaque na primeira página da Tribuna da Imprensa.
0 comentários