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ADÍLIO, COBRA CRIADA

2 / agosto / 2024

por Paulo-Roberto Andel

Ainda me lembro bem, parece que foi outro dia. Chamei uns amigos, ninguém quis ir acabei indo sozinho no Maracanã. É que eu tinha treze anos e ia ter decisão da Taça Guanabara, Flamengo e Vasco, numa noite de quarta-feira.

Por que eu, garoto de treze anos e ainda por cima tricolor, iria ao clássico dos rivais? Porque naquele tempo se gostava de bom futebol e, para vê-lo, você tinha que ir ao estádio. A rivalidade não era ódio. A gente vivia os anos 1980, os grandes campeonatos, toneladas de craques, a seleção de Telê. Era demais, acreditem os mais jovens que não puderam viver aquilo.

Cheguei cedo e fiquei pertinho da tribuna de honra, do lado direito – o do Vasco. Na preliminar jogou o time da UFE – União Fabril Exportadora – fábrica de sabão clássica na Avenida Brasil, hoje um supermercado. Perderam para o Vasco júnior por 3 a 0.

Do jogo, eu lembro que foi brigado e o Flamengo perdeu vários gols, mas o Vasco segurou as pontas. O que nunca mais me esqueci foi do final, quando tudo indicava que haveria prorrogação.

Bola na esquerda com Adílio, o cobra criada da Cruzada São Sebastião. Garoto bom que começou catando bolinhas de tênis dos players do clube da Gávea, até conseguir se tornar um dos maiores jogadores de seu time de coração. Um cracaço que por um triz não esteve na Copa do Mundo na Espanha.

Adílio ajeita a bola e desce mansamente pela esquerda. Dava pra sentir o que ia acontecer, mas sua corrida esguia e cadenciada só dava ainda mais drama aos segundos intermináveis. Do meu lado, todos os vascaínos prenderam a respiração.

Não deu outra: arrancou, deixou o zagueiro para trás e, quando todos pensaram que cruzaria, chutou no canto de Mazzaropi e, no último minuto, garantiu o penta campeonato da Taça Guanabara ao Flamengo, um numero fantástico.

Apesar de ter poucos holofotes porque falava pouco e timidamente, Adílio é reconhecido como um super craque, decisivo – embora não fosse um exímio finalizador. Seu nome está eternamente marcado na história rubro-negra, tendo feito gols em várias decisões. E como jogava.

Quando dominou na esquerda naquele Flamengo e Vasco, sonhei feito menino que ele fosse para o Fluminense. Quase aconteceu, assim como Mozer, outra fera, mas não se concretizou. Tudo bem. Agora, se fosse hoje, Adílio já seria titular do Real Madrid ou do Manchester City, fácil. Um monstro.

Aquela quarta à noite já tem 42 anos e hoje, infelizmente, me deparei com a notícia de que aquele craque, prestes a acabar com o jogo no Maracanã de 1982, está disputando a partida mais difícil de sua vida, num hospital. Estamos nós, de todas as torcidas, torcendo na arquibancada.

Adílio precisa ser valorizado e reverenciado. Foi um craque mesmo, craque monumental, não era conversa fiada. Sempre teve respeito com os rivais em todas as ocasiões. Um craque tranquilo e educado, um homem cortês, do povo mas dotado de uma realeza que poucos ostentaram no gramado imortal do Maracanã, típica de cobra criada.

@p.r.andel

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3 Comentários

  1. Graça Ramos de Sá

    O nosso Brown ou Saci, é um craque que merece todas as honras e glórias! Desejo força, fé, e que se recupere do seu quadro, pois é um atleta e tem vigor físico! Em oração para que o milagre de Deus, se faça presente! 👏🙏🙌🤲❤️🖤

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  2. Augusto Arromba

    Excelente texto!! Sou vascaíno, não lembro deste jogo, mas vi muito o Adílio jogar.
    Excelente dentro e fora de campo!!

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  3. Edeunei Ferreira

    Um irmão de alma e de paz, que já nos móveis a saudade e nos traz a lembrança do arisco Brown. Para sempre será no IGA o nosso Conselheiro de Honra, um notável ex- Atleta e um extraordinário ser humano! Retorne em paz para sua Casa Adílio, no coração de Deus, eternamente irmão!

    Responder

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