por Zé Roberto Padilha
Abel Braga vocês conhecem. Trata-se de um bom zagueiro central revelado pelo Fluminense e que, ao defender o Vasco e preparar o terreno para se tornar treinador de futebol, teve uma ideia brilhante, digna do melhor jeitinho brasileiro: convidou seu Diretor de Futebol, Eurico Miranda, para ser seu padrinho de casamento. E o Vasco, através do seu eterno mandatário, lhe abriu não uma, mas várias portas até que seus gritos à beira do campo, potencializados pela altura e visibilidade das cordas sonoras e suas bases de sustentação, alcançassem o país. E ele atingiu seus objetivos, já aí com méritos, diga-se de passagem, e sem precisar de doações da Odebrecht: foi campeão estadual, brasileiro e mundial.
Mas no livro Gênesis do futebol, corroído de traições e ciúmes, Abel tinha um irmão mais velho, Caim, que se tornou cartola tricolor. Caso o Fluminense o contratasse, cairia sempre com ele. E assim aconteceu no Brasileirão de 2013, Caim (Rodrigo Caetano) e Abel Braga apresentaram diferentes ofertas ao todo poderoso local (Peter Siemsen). O filho mais velho queria resultados imediatos e o mais novo um trabalho de renovação com as ovelhinhas ordenhadas em Xerém. Mas ao perder para o Grêmio por 2×0, completar cinco derrotas consecutivas e deixar o time na zona do rebaixamento (17º lugar), Caim, com o aval do comandante do Éden, demitiu Abel.
Se na Bíblia “o tempo é o senhor da razão”, nos Jardins das Laranjeiras ele, tempo, não passa de um adolescente em pura emoção. Porque a nova versão de Caim e seu criador eleito, apoiados por Peter, traz de volta, menos de três safras depois, Abel para dirigir suas ovelhas. O que leva, então, um treinador demitido há pouco retornar como solução? Mudou o Abel, que vai buscar resultados imediatos, Caim, que vai permitir que o gramado das Laranjeiras receba os meninos e aposente as velhas raposas, como Magno Alves, ou foi o paraíso que de vez se perdeu?
Acabo de abrir os jornais em busca de respostas. E acabaram de delatar todo o Éden. Do presidente e seus comparsas, sem exceção, todos levaram um trocado para manter erguida uma farsa chamada Brasil. Perante tal inferno dantesco seria muito exigir lisura, ética, correção em um mero clube de futebol. Então que venha esta nova versão da gênesis da bola. Pois se Caim matar de novo Abel na primeira rodada da Taça Guanabara e não voltarmos às ruas para retirar estes canalhas do poder, vai ficar provado que por lá habitava não um povo. Mas uma horda de cidadãos e torcedores tão frouxos e passivos como aqueles que empossaram para julgar seu juízo final.
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