por Paulo Marcelo Sampaio*
Há quem queime camisas. Alguns juram nunca mais ir a um estádio. Há quem prometa um ano sabático. Outros, pasmem, declaram sentir vergonha de ser botafoguenses. Esses torcedores, graças a Deus, são exceções. Para explicar a derrocada, uns apelarão para teorias conspiratórias. Outros vão procurar motivos sobrenaturais. Nem o mais competente roteirista de um filme estrelado de Bela Lugosi seria capaz de escrever algo tão cruel. A cada ano, é verdade, nós, pessimistas por formação, sempre começamos o ano precavidos e desconfiados. Um breve recuo nos jornais e nas hemerotecas e veremos vitórias improváveis.. Quem imaginaria o fim do jejum em 1989, quando nossos adversários tinham jogadores melhores? Quem apostaria no título da Conmebol de 1993, com atletas medianos? Há uma explicação para esse todos esses triunfos: homens de garra, determinados. Atitudes, dentro e fora de campo, decidem um campeonato. E também podem colocar tudo a perder.
Como explicar, por exemplo, o senhor John Textor? Como pôde cair na esparrela de brigar com a CBF em plena disputa? Ingenuidade ou uma cortina de fumaça para encobrir os erros de uma gestão que só entregou resultados apenas em um turno do Brasileirão? Como entregar o futebol para senhores que nada entendem de futebol? Como trocar quatro vezes de técnico liderando o campeonato? Como dar voz a jogadores na escolha de um treinador? Afinal de contas, não há mais Gérson Canhotinha nem Tostão, que decidiam, à revelia dos técnicos, o que se fazer em campo. Duvido que, com um ferrolho armado por Joel Santana, perderíamos esse campeonato.
Hoje, num mundo cada vez mais digital, cada vez mais cheio de assessores de imprensa, os ídolos, quando existem, estão cada vez mais distantes. Mesmo assim, são cultuados. Ganham até músicas da torcida. “Vou passar uma mensagem em nome do grupo: foi um grupo de homens, guerreiros e toda a responsabilidade do que aconteceu é nossa!”, declarou Tiquinho. O ídolo com pés de barro tentou explicar o inexplicável. Ou não sabe o significado das palavras. Ou está em Marte. Ou esqueceu que, de seus pés de barro, poderia nascer naquele fatídico pênalti contra o Palmeiras o nosso título.
A verdade é que a tão falada vantagem de 13 pontos era irreal. O Botafogo nunca teve time para fazer uma frente daquelas. O Botafogo perdeu para ele mesmo. Por causa da empáfia, por causa da arrogância, por causa do vitimismo, por causa da incompetência dos gestores da SAF. Depois de tantos erros, pedir desculpas agora é muito pouco. Que o Botafogo tem a vocação para o erro, como já disse o poeta Augusto Frederico Schmidt, todos já sabem. Mas esse ano os dirigentes abusaram. Nesse ano das derrotas vergonhosas e empates idem, quem sabe não ganhamos no STJD, senhor John Textor?
*Paulo Marcelo Sampaio, jornalista, é autor de “Os Dez Mais do Botafogo” (Maquinária Editora). Escreveu, com Rafael Casé, “21 depois de 21”, a história do título estadual de 1989
Simplesmente fantástico!
Mas também não poderia esperar nada diferente vindo de um escritor com tamanho conhecimento e competência.
Seria capaz de assinar esse texto, mas não seria honesto com o autor. Foi preciso com laser.
Excelente texto, como sempre.
Meu querido PM sua “pena” me representa e ecoou fundo no meu combalido coração Botafoguense de longos anos !
Almejo por dias melhores, pensar n’um futuro melhor e a esperança de todo Botafoguense, penso assim desde que um dos meus grandes ídolos nos deixou “Gerson de Oliveira Nunes”!
Gratidão por vc ter sido escolhido pelo Bitafogo, vc é tudo de bom e se não fosse Botafoguense seria uma perda irreparável!!!!
Abração do seu fã Gentil
Excelente texto,como botafoguense acho que era muita vantagem para uma equipe mediana,e para completar o amadorismo na gestão do futebol não poderia dar resultado diferente do final.