por Claudio Lovato Filho
Os jogadores de futebol – historicamente e de maneira geral – são acusados de se manterem distantes das causas sociais, de se omitirem dos debates políticos e de se ausentarem em momentos de crise e tragédia, como a que se abateu sobre o meu estado natal, o Rio Grande do Sul, nos últimos dias. Em uma palavra: alienação.
Ver as cenas das enchentes que causam mortes, desaparecimentos, separações de famílias, perdas de casas (volta e meia, perdas de tudo), é aflitivo demais, triste demais. Nasci em Santa Maria, fui criado em Porto Alegre, onde cheguei aos seis anos de idade, e hoje moro em Brasília. Assistir de longe a tudo o que está acontecendo na terrinha provoca um certo tipo de angústia que aqueles que já passaram por esse tipo de experiência sabem bem do que se trata.
A melancolia tem sido constante, mas alguns fatos conseguem trazer momentos de bem-vindo alento. Nós, aqui reunidos no Museu da Pelada, que amamos o futebol e fazemos dele uma parte essencial das nossas vidas, nos alegramos e nos emocionamos ao testemunhar grandes exemplos de consciência social e cidadania que os caras que vemos em campo e pelos quais torcemos são capazes de dar.
Diego Costa, que há poucos meses chegou a Porto Alegre, cedeu jet skis para que pessoas fossem retiradas de dentro d’água, pessoas que corriam iminente risco de vida, e transportou para local seguro atletas da base do Grêmio alojados em Eldorado do Sul, cidade devastada pela enchente do Guaíba. Rochet ajudou a preparar e servir marmitas aos desabrigados. Thiago Maia, outro que passou a viver no Rio Grande do Sul recentemente, ajudou a tirar moradores de áreas alagadas, entre os quais uma idosa, que ele carregou nas costas, numa cena muito impactante e de especial significado. Outros também foram para o front da tragédia, como Caíque, Maurício, Pepê e Valencia. Sem contar Dunga e Tinga, que desenvolvem trabalhos sociais permanentes no estado. Ver tudo isso nos emociona e nos faz esperar que o exemplo deles seja percebido, valorizado e seguido.
No meio da catástrofe que atingiu o Rio Grande do Sul, há heróis dos gramados se tornando heróis em sentido mais amplo, mais imperioso, mais vital. E ajudando a desmentir o falso entendimento de que os jogadores de futebol não estão nem aí. Eles estão, sim.
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