por Émerson Cássio Gáspari
Todo bom escritor que se aventure a redigir em “realidade alternativa” deve evitar a desculpa óbvia do “sonho” para justificar seu texto, recurso primário ao qual recorremos nas redações escolares, isso quando temos 11, 12 anos e queremos contextualizar algo de mais lúdico no papel.
Mesmo um escritor barato – feito eu – deve procurar fugir desse recurso tão fajuto.
Pois não é que – ironia do destino – creio que de tanto evita-lo, acabei “sonhando” um novo texto? E ainda por cima, livre das “amarras” do tempo, misturando épocas diferentes num mesmo cenário.
Como boas ideias não devem ser desperdiçadas, vamos a ele, então (e que me perdoem os leitores, mas sonho é algo que não se controla, pois aflora do coração, quando a mente se deixa entorpecer pelo sono).
Quando disse a Sérgio Pugliese da minha ideia de promovermos um torneio de futebol entre os craques oferecendo a taça “Museu da Pelada”, ele achou o máximo: e foi logo ligando para Paulo Cézar Lima, requisitando sua preciosa ajuda nisso e para que convidasse todo o mundo futebolístico que este conhecia.
PC Caju fez mais que isso: pediu a todos com quem falava, para que também convidassem quem conhecessem; independente da era em que houvessem atuado. Desse modo, multiplicou-se exponencialmente o número de cobras e apareceu gente de todo lugar e época do futebol brasileiro.
O resultado foi espantoso!
Pugliese idealizava o torneio no Rio, berço do Museu da Pelada. E o companheiro André Felipe de Lima – seu fiel escudeiro e vascaíno também – insistia para que o realizássemos em São Januário.
– E sem VAR, por favor! – exigia ele.
Mas bati o pé até o fim, argumentando que esta primeira edição precisava ser em São Paulo, pois foi onde o futebol brasileiro teria oficialmente nascido, trazido pelas mãos de Charles Miller e blá, blá, blá e mais blá, blá, blá.
Até que afinal “Serjão” cedeu, porém sob as condições de que seria um torneio totalmente raiz – de pelada, mesmo – fazendo jus ao nome da taça em disputa e também que a segunda edição aconteceria impreterivelmente na “Cidade Maravilhosa”.
Topei… e comecei a pensar no local ideal para o evento.
No Jayme Cintra, estádio do Paulista na minha querida Jundiaí, não poderia ser… seria paixão clubística demais, de minha parte.
Precisava ser na capital. Imaginei-o primeiro no campo do CMTC Clube; uma espécie de versão do “Desafio ao Galo” no século XXI (até para emprestar um ar mais amador ao torneio). Mas desisti, pois precisaríamos de mais espaço.
Pela mesma razão, descartei o romântico estádio da Rua Javari e quando já aventava a possibilidade de utilizarmos a Fazendinha, no Parque São Jorge, o amigo palmeirense Abílio Macedo interveio:
– Émerson, não! Precisamos de um território “neutro”… que tal o Pacaembu?
Maravilha! Além de charmoso, o Pacaembu ainda contava com o Museu do Futebol, que poderia abrir as portas para que o Museu da Pelada promovesse resenhas com todos os seus membros, no dia do torneio. Era ousado, mas precisávamos tentar.
Apanhamos um bonde e lá fomos nós, pedir auxílio a ninguém menos do que Paulo Machado de Carvalho, para que nos ajudasse a viabilizá-lo no estádio que por sinal, leva o seu próprio nome.
Dr. Paulo, sempre gentil e solícito, nos tranquilizou:
– Fiquem despreocupados: eu cuido de tudo! – bradou o “Marechal da Vitória”.
E já foi – ato contínuo – ligando para seus conhecidos políticos: Maluf, Adhemar, Jânio. Em menos de meia hora, estava tudo resolvido: o Pacaembu prontamente liberado para ser usado no evento, o qual deveria consumir o dia todo, sem dúvida. Além disso, aquele simpático empresário ainda responsabilizou-se pelos gastos decorrentes da premiação. Tudo pelo amor ao futebol.
Pugliese achou por bem pedir ao torcedor que fosse ao estádio, para que contribuísse com doações para os projetos sociais apoiados pelo Museu da Pelada. Nada mais justo, por sinal.
Finalmente chegou o tão aguardado domingo, que coincidia com folga no calendário futebolístico nacional. O estádio ficou abarrotado: devia haver umas cinquenta mil pessoas ao todo, lá.
E embora na “Terra da Garoa”, fomos brindados com um lindo dia de sol.
Eram tantos craques reunidos, que ficou decidido – a última hora – que o torneio teria três partidas de exibição. Não se disputariam finais: todos seriam premiados.
A “boleirada” gostou e – no mais autêntico modo peladeiro – os jogadores sentaram-se no gramado, sendo escolhidos um-a-um (a dedo!) pelos “cobrões”. Mas nada de “cariocas x paulistas”, “casados x solteiros”, “negros x brancos”: bairrismos, modismos e racismo ficaram para trás, são coisas superadas por nossa sociedade, hoje mais justa e consciente da importância de todos. E sem violência também, por favor!
Era tudo muito amador, mesmo: iriam jogar descalços e sem uniformes. Um time vestiria sempre camiseta do Museu, contra outro sem camisa. E bola “raiz”: costurada à mão, pesadona. Sem essas “bexigas” com que jogam nos dias de hoje – frisei.
– E nada de VAR! – insistiu uma vez mais, André Felipe de Lima.
Tudo pronto, os dois primeiros times pisaram no gramado. E a pelada começou exatamente às onze da manhã. Um espetáculo lindo de se ver!
Friedenreich deu a saída, rolando a pelota para Neco, que recuou a Fausto “Maravilha Negra”. Este, com categoria, abriu o jogo na direita para a descida de Zezé Procópio.
Olhei em volta e vi a multidão nas arquibancadas de olhos vidrados no campo: realmente gratificante. O prélio segue.
Falta agora de Junqueira em Feitiço, que ia costurando bela tabelinha com Araken Patusca pela meia. Trinta “jardas” de distância. Grané se apresenta para a cobrança: o “canhão 420” toma posição e solta um petardo que explode no travessão da meta defendida por Barbosa (balançando-a, inclusive!) e vai embora pela linha de fundo, deixando os narradores estupefatos, nas cabines de imprensa.
Os alaridos da torcida são constantes. E aumentam, quando Tim domina com exímia categoria e estica um passe para a arrancada empolgante de Romeu Pellicciari: com sua famosa “passada de ganso”, ele deixa o volante Zé do Monte para trás e atira firme para as redes de fora da área, abrindo a contagem. Rojões estouram por todos os lados. Golaço!
Só que a peleja é lá e cá e ninguém quer ficar atrás no marcador: logo depois vem o troco dos adversários, com Zizinho fazendo uma jogada maravilhosa em cima do zagueiro Nariz, deixando Heleno de Freitas livre para empatar.
Numa partida dessas o lúdico ocorre a todo instante fugindo às vezes, da luz da compreensão dos mais jovens, não acostumados a práticas mais antigas: como a que ocorre quando Tesourinha faz jogada maravilhosa pela direita e centra na direção de Carlitos. O artilheiro dos gols impossíveis arrisca o chute mesmo sem ângulo e vence o goleiro. Mas Belfort Duarte evita o tento em cima da linha, pois a bola toca em sua mão direita, perdendo-se pela linha de fundo.
O árbitro Mário Vianna não percebe, assinalando escanteio. Mas o grande Belfort – zagueiro e capitão do time – corre até o juiz e lhe informa que havia sim, tocado na bola. Vianna agradece sua honestidade exemplar e assinala o penal.
Ao meu lado nas arquibancadas, o amigo André Felipe de Lima não perdoa:
– Tão vendo? Bem melhor que o VAR…
Heleno cobra com força. Mas Marcos de Mendonça defende. O artilheiro se descabela (feito “Gilda”) proferindo xingamentos a tudo e a todos. Acaba sendo gentilmente “convidado a sair” e em seu lugar entra Leônidas da Silva.
O “Diamante Negro” é ovacionado pela torcida e na primeira bola que recebe pelo alto, num centro do ponteiro Canário, acerta uma bicicleta indefensável na meta guarnecida por Barbosa.
No intervalo, Veludo entra no posto de Barbosa, enquanto que Marcos de Mendonça dá lugar ao gremista Lara, verdadeira garantia em suas saídas do gol. Vários jogadores da linha também são trocados e os times voltam um pouco modificados para a segunda etapa, pelos seus treinadores Ademar Pimenta e Flávio Costa.
Segunda etapa que começa quente, pois agora o ataque dos “Três Patetas” (Isaías, Lelé e Jair Rosa Pinto) duela contra a linha defensiva “diagonal” de Rui, Bauer e Noronha. A maestria com que Jair, o “Jajá de Barra Mansa” lida com a redonda e executa seus tiros a gol e lançamentos (sempre em “s”) é encantadora.
Já o clássico Danilo Alvim, o “Príncipe Danilo”, se vê a cometer uma faltinha na intermediária. Na cobrança, Hércules “O Dinamitador” acerta (e derruba) parte da barreira humana.
A multidão vai ao delírio, extasiada com tantas jogadas “classudas” e incríveis, protagonizadas de parte-a-parte.
Ademir de Menezes trava uma batalha inglória diante de Domingos da Guia: o “Divino Mestre” não abandona a área, neutralizando a conclusão da maioria de suas belas arrancadas. É um duelo empolgante.
Bem no finalzinho, Telê Santana, o “Fio de esperança” consegue empatar a partida, num contra-ataque puxado pela direita, antecipando-se ao goleiro e tocando de biquinho, para o fundo das redes.
Palmas eclodem de todas as partes e os apupos da torcida ecoam junto à bela “concha acústica” do velho estádio.
Entram em campo as equipes para a segunda pelada do dia.
Ao apito de Armando Marques começa a partida, pouco depois de uma da tarde. Felizmente uma imensa nuvem escura domina parte do céu e providencialmente encobre o sol, durante quase todo o jogo.
Gylmar sai jogando com Djalma Santos, que estende um passe para Zito. Este avança e entrega para Pelé, que recua para pegar. De Pelé para Coutinho, para Pelé, para Coutinho. Para Pelé de novo, que atira na saída de Manga, abrindo o marcador.
Que maravilha! Quantos aplausos para o “Rei do Futebol”!
Pouco depois, é a vez de um impossível Mané Garrincha dar seu show e tirar os adversários para “dançarem”: ele finta dois, três adversários pela direita e cruza rasteiro, para o sempre eficiente Vavá empatar, com um tiro inapelável à queima-roupa, que vence Gylmar.
Em meio à constelação de craques, o meio de campo parece ser o local preferido para um verdadeiro desfile de jogadas cerebrais.
Numa delas, Dino Sani intercepta um passe, põe no chão e aciona Ademir da Guia. O “Divino” irrompe pela meia, tabelando com Dirceu Lopes. Jesus! Como jogam bem justos, esses dois! A conclusão do lance passa triscando a trave.
Já pelo outro lado, o ponto forte são os lançamentos que partem do meio, executados com maestria por Didi, “O Príncipe Etíope” e Gérson. Aliás, o “Canhotinha de Ouro” fala o tempo todo em campo, orienta os companheiros e termina por descolar um passe longo açucarado que deixa PC Caju na cara do gol: é a virada!
Didi procura cadenciar o jogo, ora aplicando seus dribles sonsos, ora invertendo jogadas, utilizando-se de sua habitual “folha-seca”.
Garrincha sente o joelho e entra Jairzinho em seu lugar. Na outra ponta está Edu, que acaba de substituir Pinga. Porém, não há tempo para mais nada, pois chegamos ao fim da primeira etapa.
Um Carlito Rocha preocupado vai ver Mané nos vestiários, mas Mario Américo o tranquiliza, dizendo que ele já está melhor com suas massagens, que não foi nada de mais. Só que o dirigente está sempre preparado e faz Garrincha, Didi e Nilton Santos tomarem as vitaminas que carrega no bolso, para “deixa-los mais saudáveis”, se lamentando pelo fato apenas de que não estejam na concentração botafoguense, onde poderia preparar suas fortificantes “gemadas”.
No período complementar, o espetáculo prossegue.
O capitão Carlos Alberto Torres trava um duelo duríssimo contra ninguém menos do que o endiabrado Canhoteiro. Num dos lances, o “Capita” encurrala o ponta junto à bandeirinha de escanteio, mas o lépido atacante escapa por um espaço menor do que um lenço, entre seu marcador e a linha de fundo, arrancando aplausos fervorosos da galera.
Já do outro lado, Julinho Botelho dá bastante trabalho para Nilton Santos, mas por enquanto o “Enciclopédia” vai controlando seu setor e levando a melhor, evitando o confronto, na base da experiência e da antecipação.
Os goleiros – eu ia me esquecendo – a essa altura, já são outros: entraram Oberdan no lugar de Gylmar e Castilho no posto de Manga. Além de outros jogadores na linha, escolhidos pelos treinadores Vicente Feola e AymoréMoreira.
A sorte de Castilho quase vai pro “bebeléu” quando Tostão enfia um passe audacioso para Pelé, pela meia-esquerda. O “Leiteria” deixa o gol e é inapelavelmente driblado com uma ginga de corpo do “Rei”, o qual corre pelo outro lado, perseguindo a bola que cruza a área em diagonal e a chuta, mesmo desequilibrado. A redonda cruza toda a extensão da meta – com Bellini caindo dentro dela ao travar a corrida – e caprichosamente, vai para fora.
Já Oberdan se vê em maus lençóis e tem que “se virar”, quando Edu e Rivellino tramam linda jogada pela esquerda – com direito a “elástico” de Riva – envolvendo a dupla Mauro e Piazza. Mas o goleiro palmeirense defende o tiro de Edu, agarrando com uma mão apenas e não dando rebote.
Mais gols, apenas no final: primeiro com Tostão, que inteligentemente apenas desvia um rebote na falta cobrada por Pepe bem no cantinho de Castilho e depois, nos instantes finais (acreditem!), Dario, o “Dadá Maravilha” – que acabara de entrar – também deixa o seu, tocando de cabeça de maneira atabalhoada e de costas para as redes, confundindo Oberdan Cattani.
A galera cai na gargalhada com o lance e a comemoração, porque “Rei Dadá” não faz por menos e vem comemorar no alambrado com os torcedores.
Ao término do jogo, ele é, ao lado de Pelé, o mais assediado pelos repórteres de campo e explica, no imenso microfone que segura Sílvio Luiz, que “não existe gol feio; feio é não marcar gols”.
Nas cabines de rádio e TV e na imprensa escrita, um show de profissionalismo e competência: Geraldo José de Almeida, Waldir Amaral, Osmar Santos, Luciano do Valle, José Silvério, Pedro Luiz, Fiori Gigliotti, João Saldanha, Mário Filho, José Trajano, Milton Neves, Sérgio Noronha.
Nelson Rodrigues prefere ocupar uma das cadeiras de honra. Abaixo dele, estão Castor de Andrade e Eurico Miranda, confabulando sabe-se lá o que!
O sol volta a raiar com intensidade e os apupos da torcida trazem novas equipes a campo.
Já passa um pouco das três da tarde, quando o árbitro Arnaldo César Coelho autoriza o início do derradeiro duelo. Zagallo e Felipão estão à beira do gramado, berrando com seus times, desde o primeiro minuto de jogo.
O equilíbrio fica mais evidente, desde o início: os espaços estão menores e a marcação, mais acirrada, nesse confronto. A bola parada vira uma arma importantíssima.
A dupla de ataque Sócrates & Palhinha leva o casal Vicente e Marlene Matheus ao delírio, com suas tabelinhas empolgantes. Do lado de lá, Edmundo e Evair vão mostrando à que vieram: o “Animal” está impossível, hoje.
Renato Gaúcho faz uma jogada sensacional pela direita e põe na cabeça de Reinaldo, obrigando Dida a fazer seu primeiro milagre.
Os adversários respondem com uma triangulação infernal entre Zico, Bebeto e Roberto Dinamite, que acaba derrubado na entrada da área. O “Galinho” cobra com perfeição e Leão salva, de ponta de dedos, pondo a escanteio.
Júnior avança e entrega para Rivaldo, que faz o corta luz, deixando a bola chegar para Ronaldo Fenômeno, que enche o pé, passando muito perto do gol.
Agora Cafu desce pela direita e toca para Dener. O craque arranca com vontade e imensa velocidade e é parado na falta, na altura da meia-direita. Éder vai para a cobrança. Tensão no ar.
O petardo infernal sai ziguezagueando, acerta o ângulo e abre a contagem. Fim do primeiro tempo.
Durante o intervalo, a galera se entretém com alguns jogadores que não estão jogando, optando por brincadeiras mais descontraídas e abrilhantando o espetáculo: no gramado, Rogério Ceni se alterna entre bater e defender faltas e penais cobrados também por Perácio, Cláudio Cristóvam de Pinho, Zenon, Dicá, Ailton Lira, Neto, Marcelinho Carioca, Djalminha, Paulo Baier, Elói e Mendonça.
Do outro lado do campo, mais atrações: um grupinho formado por Kerlon “Foquinha”, Baltazar “Cabecinha de Ouro”, Leivinha e Escurinho trocam inúmeros passes aéreos – apenas de cabeça – sem deixarem a bola cair. Próximo a eles, um animado grupo faz farra numa “roda de bobinhos”, só tocando de primeira, na maior categoria: Geraldo Assoviador, Kaká, Robinho, Denílson, Ronaldinho Gaúcho, PH Ganso, Neymar e até mesmo Falcão do futsal e Marta do futebol feminino.
A criançada vai ao delírio com eles!
Na volta dos vestiários, Marcos entra no posto de Leão e Taffarel no de Dida. Começa a etapa final do último jogo, com muitas alterações (para variar!) e um monte de caras novas aparece em campo.
Careca & Muller dão uma canseira em Aldair e Marinho Chagas. Já Leandro evita descer para o ataque, pois precisa conter os avanços de Roberto Carlos pela canhota. A dupla “Casal 20” Washington e Assis vira então, um autêntico show à parte.
Do outro lado, é Romário e Adriano quem estão “tocando o terror” na dupla de zaga Oscar e Amaral. Eles só não levaram gol ainda, porque jogam com três zagueiros (como Felipão adotou) e Luís Pereira fica como líbero, salvando os lances mais agudos.
As disputas pelo alto entre o “Imperador” e o “Chevrolet” são épicas, ainda mais quando o zagueirão arranca para o ataque, levando o time todo junto.
Por sua vez, o “Baixinho” obriga o clássico Amaral a salvar gols certos por duas vezes, em cima da linha. Por conta disso, Amaral (mesmo sendo zagueiro) acabaria sendo eleito “o melhor goleiro” daquela tarde, numa descontraída brincadeira por parte da imprensa, que o presentearia por fim, com um “Moto-rádio”.
O espetáculo está terminando; o “Rei de Roma” Falcão apanha uma bola na zaga e elegantemente caminha, conduzindo-a sem sequer olhar para ela. De repente, a entrega no círculo-central, a Mário Sérgio. O “Vesgo” não tem tempo sequer de olhar para um lado e lançar para o outro: é calçado por Dirceu (que ajudava na marcação) e que acaba por cometer uma falta. Aproxima-se a última volta dos ponteiros!
Nelinho ajeita a bola ali mesmo, no meio de campo e toma imensa distância para bater. Taffarel pede barreira de seis homens, mesmo dali (pode isso, Arnaldo?).
A pancada de direita é violentíssima, sai fazendo curvas e não dá a mínima chance ao goleiro, furando inclusive as redes. Incrível: é o empate, em cima da hora! Fim de jogo!
A última pelada termina com um público que se levanta e permanece aplaudindo por vários minutos de pé os seus craques.
Todos os times agora no gramado começam a receber das mãos do Dr. Paulo Machado de Carvalho e de Sérgio Pugliese, as medalhas e taças do “Museu da Pelada”.
Finda a confraternização e premiações, parte do público não arreda pé do estádio: é hora da “resenha”, realizada ali pertinho, no Museu do Futebol.
O público superlota a Praça Charles Miller, prestando especial atenção à descontraída conversa com tantos craques (tendo Sócrates e Caju à frente), comandada por Sergio Pugliese, que conta com a providencial ajuda de alguns membros-voluntários do Museu da Pelada: André Felipe de Lima, Abilio Macedo, Walter Duarte, Daniel Muniz, Émerson Gáspari, entre outros.
A resenha então se estende preguiçosamente desde o finalzinho da tarde, até altas horas da noite, tirando inclusive a própria Internet do ar e criando um autêntico “colapso digital”, tal a absurda quantidade de acessos de gente que tudo acompanhou – ao vivo, pela TV ou rádio – e que agora se encontra comentando boquiaberto o que viu e que nunca mais irá se esquecer na vida, enfim.
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