por Zé Roberto Padilha
Era tão bom quando a seleção era brasileira.
Jogavam em nossos clubes, viviam os nossos problemas, sofriam com os engarramentos, o aumento da gasolina e do gás de cozinha.
Quando eram convocados, iam para uma estância hidro mineral e treinavam ao lado de sua gente. A energia era repassada na beira do alambrado, na busca pelos autógrafos, no assédio dos torcedores.
De uns tempos para cá, foram trancafiados em condomínios de luxo do outro lado do atlântico. Falam outra língua, recebem outra moeda e quando são convocados desembarcam na área vip protegidos.
Dos seguranças, do assedio dos fãs.
Dos clamores, se protegem com headphones.
São incapazes de se posicionar sobre qualquer causa que afete sua gente. Nao são a favor ou contra a cloroquina. Ídolos são porta-vozes de quem os idolatra. Eles, tão distantes, não estão nem aí.
Não sou saudosista, que vive do passado. Sou saudoso das coisas boas que vivemos.
Jairzinho deixando o Botafogo e se apresentando na sede da CBD. E a sua gloriosa torcida presente, no centro da cidade, toda orgulhosa porque se sentia convocada também.
A sintonia se foi, a empatia desapareceu, a cumplicidade se perdeu. Até quando acertam o nome que está na boca do povo convocam o Fred errado.
Sério? Prefiro assistir Botafogo x Coritiba. Pelo menos vamos cruzar com seus jogadores em algum lugar do presente.
Porque o passado é uma camisa Athleta, verde amarela, sem patrocínios, feita a mão, disputada a tapa de uma seleção brasileira, que, hoje, tão fria, previsível e distante, não nos representa mais.
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