por Zé Roberto Padilha
Véspera do casamento, me aprontaram uma. A tal despedida de solteiro não autorizada.
Aos 26 anos, virgem etilicamente, desembarquei de Recife, onde defendia o Santa Cruz, na cidade maravilhosa onde almoçaria com minha irmã. No caminho, meu taxi foi interceptado por uma blitz organizada por irmãos, cunhados e amigos.
Passamos toda a tarde fazendo o tour dos botecos. Brindes no Castelinho, chope da Brahma no Caneco 70. Não teve um só bar que não fosse visitado em toda a orla.
Bebia muito pouco porque era obcecado pelo aprimoramento do meu preparo físico. Era ele, nunca tive dúvidas, que me mantinha em cena por 17 temporadas. Graças a tudo que investi treinando forte, dormindo cedo e tomando meu Ovomaltine Crocante do Bobs, poucos treinadores abriam mão do seu formiguinha.
Passava das 19h quando dei entrada no Hospital Miguel Couto. Glicose na veia, nem precisou passar pela triagem. Quando a enfermeira se aproximou para aplicar o soro, meu irmão, notando seu chaveiro rubro-negro, disse a ela:
– Trata com carinho que ele defendeu seu time!
Sua resposta jogou por terra todos os meus cuidados e afundou de vez minha autoestima:
– Agora eu sei porque ele não joga mais!
Inerte, desorientado, tentei me defender mas não tinha mais voz, orgulho, chuteiras, mais nada.
“Agora eu sei porque ele não joga mais!” foi, em toda minha carreira, por não poder sequer marcar os adversários ou dar um chute a gol, a pior das derrotas.
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