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A NOBREZA NO FUTEBOL, SEGUNDO JORGE CURI

13 / janeiro / 2020

por Jorge Lasperg 


Que Pelé é o “Rei do Futebol”, o mundo inteiro sabe e, à exceção dos “Hermanos”, concorda plenamente. Mas, e os outros títulos de nobreza? Será que existiram?

A resposta é SIM, prezado leitor! Pelo menos, na ótica do saudoso Jorge Curi, meu narrador favorito, e que dividia a preferência dos ouvintes com os também saudosos Waldir Amaral, Doalcei Bueno de Camargo e Orlando Baptista.

Corria o ano de 1968, quando meu interesse por futebol tornou-se uma obsessão quase patológica. Não só por causa do meu amado Flamengo, mas por toda a aura de magia que circundava o esporte. Decorava tudo: o nome completo dos jogadores. Sabia de cor a escalação de todos os times grandes do Brasil, incluindo Grêmio, Internacional, Cruzeiro, Atlétio Mineiro, Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo, Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo e os tristemente apequenados, como Bangu, América e Portuguesa de Desportos. E, claro, os narradores esportivos.

Meu coração de menino vibrava quando ouvia Jorge Curi, ainda pela Rádio Nacional AM,narrando, com sua voz  tonitroante: “Bola para Tostão, o VICE-REI do futebol”. Para mim, nada mais justo. Aliás, por tudo que foi, merecia um destaque maior no Panteão dos Grandes Craques Brasileiros. Afinal, comandar o Cruzeiro, menino que era, em uma goleada acachapante de 6×1, sendo 5×0 ainda no primeiro tempo, era para ser lembrado por toda a eternidade.

Se falarmos em “IMPERADOR”, quase todos lembrarão de Adriano, certo? Pois bem: informo a todos que NÃO! Nas narrações maravilhosas de Jorge Curi, ouvia-o com frequência dizer “bola para Jairzinho, o IMPERADOR do futebol”. Pois é, caro leitor. Anos antes de adotar o apelido de “Furacão da Copa”, o grande Jairzinho foi agraciado por Jorge Curi com a nobre alcunha de “Imperador do Futebol”, incorporada décadas depois por Adriano, aquele mesmo que, para nossa tristeza, abdicou da nobreza para viver quase anonimamente, cercado pelo povo humilde que sempre o amou e respeitou.

E como toda realeza ao redor do mundo, havia também, é claro os “príncipes”: Ivair, então na Portuguesa de Desportos, exibia orgulhoso este título, juntamente com um menino lourinho que já surgia para o futebol na mesma Lusa: Leivinha, a quem Jorge Curi, inteligentemente, chamava de “Pequeno Príncipe”.

Sabendo que a lista de títulos de nobreza era muito menor do que os jogadores que ele queria homenagear, Jorge Curi inventou novos títulos de nobreza. A lista é grande, mas ainda ecoa na minha cabeça sua voz narrando uma partida entre Cariocas e Mineiros, onde ele dizia “bola para Dirceu Lopes, CLASSE A do futebol brasileiro”. Era uma forma de corrigir uma injustiça, afinal Dirceu Lopes não poderia, em hipótese alguma, ficar de fora da nobreza do futebol brasileiro.

E assim, de apelido em apelido, Jorge Curi foi conquistando minha preferência como narrador esportivo. Alguns poderão dizer que minha preferência por ele seria motivada por termos o mesmo nome. Outros dirão que seria pelo fato dele, assim como eu, ser um apaixonado torcedor do Flamengo. Deixo a cargo da imaginação de cada um.

Alguns apelidos, também veiculados por ele, beiravam a bizarrice, como chamar Paulo Cezar Caju de “Nariz de Ferro”, e Edu, ponta-esquerda do Santos, de “Urubu Bonito”. Mas isso, amigos, já é uma outra história…  

1 Comentário

  1. Ricardo Luiz

    Excelente texto Lasperg. Me fez lembrar meus primórdios como amante do futebol e do meu querido Mengão. Aí vão dois exemplos que lembrei usados por Joge Curi: o Zanata era o “paletó velho” e o Doval “o milongueiro”. Forte abraço.

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