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A MORTE E A MORTE DE MARADONA

9 / dezembro / 2020

por Paulo Roberto Melo


Quantas vezes se morre em uma vida? E quantas vezes, mediante essas mortes, se consegue ressuscitar? Quantas vezes, até o descanso definitivo dos olhos, uma pessoa busca a reinvenção, a volta, o renascimento? 

Diego Armando Maradona morreu aos 24 anos, quando experimentou a primeira carreira de cocaína de sua vida. Estava no Barcelona, um dos maiores clubes do mundo e a cobrança por ter sido a maior transação da história do futebol até então, pressionava o craque. Para piorar, depois de uma entrada criminosa, fraturou o maléolo fibular do tornozelo esquerdo e o ligamento colateral. Três meses e meio longe dos gramados.

Diego Armando Maradona ressuscitou em 1984, quando chegou à cidade de Nápoles, para transformar o modesto Napoli em um clube vencedor de Copa da Itália, Copa da Uefa e campeonato italiano. Fez gols de falta, de cabeça, por cobertura e encantou uma cidade, um país e o mundo.


Diego Armando Maradona morreu, no estádio de Sarriá, durante a Copa da Espanha em 1982. Defendendo uma seleção argentina envelhecida, desencontrada e mal treinada, foi expulso ao dar uma solada em Batista, jogador da seleção brasileira. O placar de 3×1 para a seleção canarinho enterrava de vez uma geração que havia sido campeã mundial quatro anos antes em gramados argentinos.

Diego Armando Maradona ressuscitou, driblando ingleses, belgas, alemães e a arbitragem, durante a Copa do México, em 1986. Foi o melhor da bicampeã Argentina, o melhor da Copa, o melhor do mundo.

Diego Armando Maradona morreu ao ser pego em um exame de dopping, em 1991, quando ainda defendia o Napoli. A pena rendeu 15 meses de suspensão ao craque. Depois, durante a Copa dos Estados Unidos, em 1994, saiu de mãos dadas do campo, com uma enfermeira, direto para outro exame de dopping que daria positivo e o tiraria da Copa.

Diego Armando Maradona ressuscitou em La Bombonera lotada, ao se despedir do povo argentino e da torcida do Boca, seu amor no futebol. Em meio às lágrimas, agradeceu, falou dos seus equívocos e deixou uma mensagem para todas as gerações de futebolistas após ele: “A bola não se mancha”.


Diego Armando Maradona morreu no dia 25 de novembro de 2020, aos 60 anos de idade. Seu coração parou de bater, seu cérebro parou de emitir mensagens para sua genial perna esquerda e suas posições firmes, seja de ordem política ou social se calaram. Seus olhos se cerraram e nunca a expressão “descansou” foi tão bem aplicada a uma pessoa.

Diego Armando Maradona ressuscitou um segundo após ter morrido. Ele está vivo nos documentários, nos jogos, nos textos, nas resenhas, nas homenagens. Diego Armando Maradona não foi o melhor que eu vi. Mas com certeza, o mundo sem ele está mais pobre.

Quantas vezes se morre em uma vida? E quantas vezes, mediante essas mortes, se consegue ressuscitar?

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