por Zé Roberto Padilha
Estava entregue ao Departamento Médico da minha empresa e toda as manhãs e tardes ia até a sua sede realizar fisioterapia. Pouco importa como chegaria lá, de metrô, carro, ônibus ou a pé, importava era não faltar ao tratamento.
Só que trabalhava no Clube de Regatas do Flamengo e, na ocasião, era um ponta esquerda que chegara como solução para a posição. Mais do que isso, fora trocado por um ídolo da casa, Doval, que fora defender o rival. O Fluminense.
A equipe não ia bem, Doval se destacava no Flu e meu tornozelo não ficava bom. E a imprensa cobrando nosso retorno e a torcida insatisfeita com a demora.
Como morava ao lado do campo, na Selva de Pedra, no Leblon, tinha dificuldades em ir andando. Como estava sem carro, pedi o da minha irmã, uma Mercedes azul conversível, para ir até a Gávea.
– Pelo amor de Deus, vá com cuidado!
O carro, lindo, uma relíquia, era para ter mais do que cuidados.
Quando cheguei ao clube, quem estava chegando para fazer a reportagem e deparou comigo no estacionamento? Oldemário Touguinhó, que tinha uma prestigiada coluna de esportes no JB. Foi muito azar!
Dia seguinte as coisas pioraram para o meu lado enquanto procurava melhoras para o meu tornozelo. A manchete dizia: “Se você está esperando, torcedor rubro-negro, pela volta do seu ponta esquerda, esquece! O homem está desfilando com uma Mercedes!”
Em 1976, Zico, com 22 anos e o craque do time, tinha um Chevete. Seis meses depois, não resistindo tanto às cobranças como a jogar com botinhas de esparadrapos, fui vendido ao Santa Cruz.
Fui de avião, a Mercedes ficou e o Lico veio ocupar o meu lugar. Meu drama “Uma vez Flamengo, nunca mais no Flamengo!”, quem sabe um dia mereça um documentário da Netflix.
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