por Claudio Lovato Filho
Pois é, menina. O que eu posso te dizer?
Tem gente falando que você exagerou, que se arriscou sem necessidade.
Outros, que você só queria aparecer e que deu mau exemplo.
Será?
Eu não vi nada disso. Eu vi paixão.
Alguém poderia me perguntar: “E se fosse a sua filha, machucada daquele jeito por causa do arame farpado, correndo o risco de despencar do alambrado e se arrebentar?”
Pois é, menina. Como eu responderia a isso?
Não sei.
“Eu não posso por ser mulher?”, você perguntou quando foram lhe entrevistar depois do jogo.
Certeza que se em seu lugar fosse um menino a repercussão seria outra. Todo mundo sabe. O mundo é assim.
Você disse que queria voar, e, como não podia, subiu no alambrado.
Você tinha que extravasar de algum jeito, não é? Aquilo tudo no seu coração tinha que sair de algum jeito.
A verdade é que, naquele momento, o coração do El Cilindro era você.
O coração do futebol era você.
O futebol era você.
Marianela, Mari, o que você foi fazer, hein?
E o Yuri estava lá, no lugar certo, na hora certa, como costuma acontecer com todos os fotógrafos bons de bola.
Naquele momento, você era a mensagem; e ele, o meio.
Se você fosse minha filha eu talvez estivesse escrevendo tudo isto numa cama de hospital, caso tivesse sobrevivido ao infarto.
Mas cá estamos todos nós, todos firmes e fortes, você, o Yuri Laurindo, eu e todos nós que sabemos que a verdadeira essência do futebol está toda lá, simbolizada na foto.
A sua imagem no alambrado do El Cilindro.
Seu joelho cortado, seu braço “desansando” sobre o arame, suas lágrimas, seu amor por um clube, por um escudo. Tudo lá, naquela imagem.
O que mais eu posso dizer?
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