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A MÁGOA DO ETERNO ÍDOLO

28 / abril / 2025

por Elso Venâncio

Barrado por Flávio Costa aos 25 anos, Nilton Santos acordava assustado, sonhando com a derrota para o Uruguai na Copa de 1950, no Maracanã. E afirmava que se estivesse em campo, a história seria diferente.

No primeiro ano do Século XXI, Nilton Santos foi eleito pela FIFA o maior lateral-esquerdo da história do futebol. Carioca da Ilha do Governador, Nilton esteve nas Copas do Mundo de 1950, 1954, 1958 e 1962, sendo bicampeão em 58, na Suécia, e 62, no Chile. Além da Seleção Brasileira, só vestiu a camisa do Botafogo, clube que defendeu por 17 temporadas, de 1948 a 1964, em 723 partidas. É o atleta que mais atuou pelo alvinegro da estrela solitária. O segundo é Garrincha, com 610 jogos.

Grande cronista do futebol brasileiro, o botafoguense Armando Nogueira assim definiu o ídolo: “Tu, em campo, parecias tantos e no entanto, que encanto! Eras um só, Nilton Santos”.

Waldir Amaral, locutor esportivo da Rádio Globo AM-RJ, criou para Nilton Santos o apelido Enciclopédia do Futebol Brasileiro. O craque se destacava pela visão de jogo e capacidade de se antecipar aos adversários, tendo inovado ao ser o primeiro lateral a participar das jogadas de ataque.

Nos anos 1960, o confronto entre Santos e Botafogo era o maior clássico do futebol, com muitos bicampeões do mundo se enfrentando. No Botafogo: Nilton Santos, Didi, Garrincha, Amarildo, Zagallo… E no Santos: Gilmar, Mauro, Zico, Pelé, Pepe… 

Num desses jogos históricos, um icônico lance refletiu o futebol-arte que encantava o mundo. Pelé encobriu Nilton Santos com um lençol, mas Nilton reagiu imediatamente, aplicando um chapéu de chaleira antes de sair jogando com a bola dominada. O Maracanã lotado aplaudiu de pé a disputa entre dois gênios da bola. “Porra, me respeita”, gritou o Rei do Futebol.

Em várias manhãs, nas caminhadas pelo Aterro do Flamengo, eu encontrava e ouvia histórias do Mestre. Já com uns 80 anos, Nilton Santos atravessava a passarela da Rua Barão do Flamengo e ficava um bom tempo dando milho aos pombos. Com sua voz rouca, falava calmamente:

— Até hoje, eu não consigo entender o Flávio Costa. Eu tinha 25 anos na Copa de 1950. Estava em forma e era titular absoluto. Eu sentei na grama para tirar a chuteira e ele me questionou de forma autoritária: “Que chuteira é essa? Bico macio? Você tem que colocar a de bico grosso, para ter o respeito dos adversários”. “Seu Flávio, eu jogo futebol e bem! Não preciso desse recurso”. Ele me olhou duas vezes de cima para baixo, com semblante duro, e nunca mais me escalou. Se jogo, a história seria diferente. Sonho até hoje com essa decisão, mesmo sem ter entrado em campo.

Nilton se referia à derrota do Brasil para o Uruguai, por 2 a 1, no Maracanã, no confronto decisivo da Copa do Mundo. Sem dúvidas, foi o jogo que causou a maior depressão coletiva do país.

Conhecido como Engenhão por estar situado no Engenho de Dentro, o estádio do Botafogo recebeu o nome oficial de Nilton Santos, em homenagem ao legado do lendário lateral. Ídolo eterno do futebol brasileiro, Nilton faleceu aos 88 anos, em 27 de novembro de 2013, lutando contra problemas cardíacos. Completaria 100 anos no próximo dia 16 de maio, data digna de novas homenagens.

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