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A HORA DE PEDRO

18 / julho / 2022

por Elso Venâncio

Finalmente o atacante Pedro consegue ter a merecida sequência de jogos. Seguramente, vai ser convocado para a Copa do Mundo. Não dá para entender como um jogador com a qualidade dele fica dois anos na reserva. Ou dois anos e meio, sei lá…

Pedro sabe fazer gols e também sabe jogar recuado, buscando a bola e deixando os companheiros de frente para o crime. Ele me lembra um pouco o jeitão do Roberto Dinamite. Romário surgiu no Vasco, lançado por Antônio Lopes, em 1985. Roberto, maior ídolo do clube, percebendo a genialidade do seu jovem companheiro de ataque, passou a atuar mais recuado. Ágil e habilidoso, Romário pode fazer muitos gols e jogadas de raro efeito graças aos lançamentos do velho goleador.

Quando o técnico do Flamengo era Rogério Ceni, eu não entendia e nem aceitava ver o ‘Queixada’ – apelido de Pedro – na reserva. Perguntei a um conselheiro do clube, que respira como poucos os ares da Gávea, se alguém conversava com o treinador sobre o assunto. Ouvi dele:

“Gabigol não gosta de ser substituído e quer jogar todas.”

“Por que não os dois juntos no ataque?”, insisti. “O que acha o Rogério?”

“Ninguém conversa com ele.”

“Nem o vice de futebol?”

“Não.”

“E o Conselho?”

“Também não.”

“Mas o presidente tem liberdade para falar com ele?”

“Acho que não.”

Treinador não é dono da verdade. Se erra, ou se insiste no erro, tem que dar explicações. Vocação para errar quem tinha, a meu ver, era o português Paulo Souza. Éverton Ribeiro de lateral? Marinho também? Filipe Luís na zaga? Gabigol na ponta? Bruno Henrique no meio? Absurdos!!!

Acompanhei de perto muitos presidentes. Na CBF mesmo, Ricardo Teixeira exigia ser o primeiro a ver a relação dos convocados e deixava claro que tinha poder de veto. Romário ficou na bronca com ele depois de ter recebido do dirigente a garantia que iria à Copa e, depois, ver o presidente lavar as mãos quando Felipão o deixou de fora, em 2002.

Vi outros exemplos disso no Flamengo. Kleber Leite sempre foi um apaixonado. Chamava os técnicos após as derrotas e exigia explicações. A atitude dele, movida pela emoção, soava errada, mas a cobrança, que deveria ser feita em outro momento, era mais do que correta.

Já o vitorioso Márcio Braga delegava os poderes no futebol – normalmente, para Paulo Dantas. Lembro que estávamos no avião a caminho de Porto Alegre quando Márcio perguntou quem era um certo garoto, apontando para o jovem zagueiro Juan, que aos 18 anos tinha assumido a vaga de titular.

Márcio Braga chegou a cobrar duramente de Kleber Leite, numa tensa reunião no Conselho de Administração, que ele atropelava os dirigentes e profissionais ao querer opinar sobre escalação. Outro grande presidente, um dos maiores da história rubro-negra, foi Antônio Augusto Dunshee de Abranches, campeão do mundo em 1981. Ele exercia sua liderança sempre se reunindo com os técnicos para pedir explicações.

O fato é que Pedro, pretendido por vários clubes, aturou uma angustiante reserva e, nisso, quem foi prejudicado foi o Flamengo. Suas últimas e próximas apresentações vão carimbar, com toda justiça, seu passaporte para a Copa do Catar.

TAGS: Pedro

1 Comentário

  1. Tadeu cunha

    Ótimo texto,desde os tempos em que saiu de xerem para os profissionais do FLU,que Pedro já se apresentava como um craque em potencial,só os obtusos ululantes nao viam isso.

    Responder

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