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A FINAL DA COPA E UMA FESTA JUNINA EM BRAGANÇA

14 / março / 2018

por Marcelo Mendez

Não sabia exatamente o que faríamos em Bragança Paulista naquele domingo.


As pessoas do mundo adulto não se preocupam muito em explicar as coisas da logística para os meninos de 8 anos de idade. Fato é que naquele domingo de 1978, me vi dentro de uma das duas kombis que levariam minha família para um lugar de nome “Água Cumprida” para fazer alguma coisa no interior de São Paulo.

No caminho, prestando atenção nas conversas dos meus tios, descobri que iríamos até lá por conta dos parentes do meu bisavô, a parte espanhola da família, que ao invés de vir para o ABC, ficou pelo interior do estado. E por lá, todos os anos eles faziam uma festa junina ou coisa do tipo. Fiquei mais feliz.

Chegando no lugar, um cenário típico de cidade do interior.

Água Cumprida é, ou era (Não sei se ainda existe como tal…) um bairro de Bragança. Por lá havia uma igreja no alto de um morro, um largo grande rodeando uma praça com um coreto, a casa dos tios e um campo envolto num enorme bambuzal. Por conta da festa, dos bailes e cantorias, não havia atividades no campo de futebol e as atenções do dia ficaram todas centradas nos tais festejos.

Daquela maneira, passamos o nosso domingo sem saber de muita coisa do que havia, até que Tio Zezinho, lá pelas 16h anunciou:

– Pessoal, encontrei um bar ali com uma TV. Vai dar para ver a final da Copa!

– Ah, Zé… Não quero mais saber de nada desse torneio roubado, não! – falou meu tio João, ainda sentindo as dores do que havia acontecido no episódio do 6×0 da Argentina no Peru, que nos tirou do certame:

– Oras, deixa de besteira, João. É uma final…

– Zé, não quero saber. E outra, você vê la que a gente vai sair daqui umas 18h, hein!!”

Meio que contrariado meu tio saiu rumo ao bar. No meio do caminho ele me viu:

– Marcelo, vem comigo ver o jogo. Te pago uma coxinha e um guaraná caçulinha!


Muito mais persuadido pela barganha da coxinha com o guaraná, do que pelo espírito de corpo e solidariedade com o tio, fui com ele. Chegamos na hora da entrada dos times em campo e achei bonita toda aquela festa do povo Argentino. O jogo foi emocionante.

No tempo normal, 1×1 e uma bola na trave da Argentina, chutada por Rensenbrink aos 45 do segundo tempo. Por muito pouco a Argentina não perde ali as suas chances de sonhar. Mas a partida foi para prorrogação e então, o cabeludo que não gostávamos, de nome Kempes, acabou com o jogo que acabou em 3×1 e a Argentina conseguiu seu caneco.

Depois do jogo, me lembro muito mais das broncas todas que Tio Zezinho levou, do que de alguma resenha sobre o ocorrido. Por conta de a gente ver o jogo, a volta da família para Santo André demorou mais ainda.

No caminho, eu pensava nisso que havia terminado. Foi a primeira Copa que eu vi, o Brasil que não perdeu para ninguém, ficou em terceiro lugar, um dia antes havia vencido a Itália e não houve festa como de costume. Entendi que para os meus iguais Brasileiros não havia meio termo em se tratando de Copa:

Ou ganha, ou não vale nada. Mas isso era apenas uma impressão de menino.

A próxima Copa me mostraria que nem sempre é assim…

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