por Zé Roberto Padilha
Entendo um pouco da posição pois joguei ao lado de Marco Antônio e do Junior. E vi o Nilton Santos pela televisão e o Marinho Chagas nos enfrentar, pelo Botafogo, nos anos 70, com uma qualidade técnica absurda. E estou à vontade para pedir aos conselheiros do Flamengo uma CPI para apurar quem está por trás da contratação de Filipe Luís. Gastar a fortuna que estão anunciando parta trazer o mais limitado lateral esquerdo que já vestiu a camisa da seleção é uma covardia. Covardia com as famílias que ainda não receberam as indenizações do incêndio do Ninho do Urubu. Covardia com a torcida do Flamengo que ainda sonha em ser novamente campeã mundial de clubes. Sinceramente? Trauco e Renê são, hoje, bem mais efetivos do que ele.
Nada pessoalmente contra Filipe Luís. É um atleta aplicado e disciplinado, sabedor das suas limitações e que não inventa dentro do seu cardápio feijão com arroz: apoia sem brilho e defende sem chamar a atenção de quem está à procura do craque do jogo. Se não fosse seu coque no cabelo, passaria despercebido. Como é diferente, chama atenção e poucos prestam atenção na mesmice que joga.
Seu maior trunfo é o tamanho do prestígio do seu empresário: o colocou no Atlético de Madrid e apesar de estar à quilômetros do Marcelo e sem possuir a impetuosidade do Alex Sandro, seu reserva, acreditem, está sempre presente na lista dos convocados. E agora surge como solução para o clube mais amado do Brasil. Quem estará por trás disto?
Certo dia, para não dizer que sou implicante, e como ex-jogador e jornalista tenho que ter cuidado redobrado para analisar um companheiro de profissão, convoquei meus filhos para a sala durante um Atlético de Madrid x Real Madrid. E pedi para que analisassem os dois laterais esquerdos. A conclusão foi unânime: de um lado um gênio, daqueles que só Xerém produz, como Thiago Silva. De outro um jogador que, com todo respeito, tinha um canhotinho atuando parecido nas finais da Copa Arizona de Futebol de Praia. E outros que jogam soçaite no Tijuca Tênis Clube e no Clube Harmonia, em São Paulo.
Tem Filipe Luís dando nos pés das serras pelos cantos do país e aí vem o Flamengo e destina uma fortuna por ele já no apagar das suas brandas luzes. Um dos meus filhos ainda disse, em sua defesa, “Mas ele não erra passes!”. O outro rebateu: “Mas se só joga para o lado e não arrisca algo diferente, como errar?”
Ontem, durante o “clássico” Avaí x Goiás, quem vestia a camisa 10 do Avaí era o Douglas. Que fez bonito no Grêmio, honrou a camisa do Vasco e está ocupando o degrau certo na escala que nos leva a aposentadoria. Quando a ordem se inverte e, em vez de descer dignamente, um atleta é recolocado na vitrine às véspera dos 3.4, tem algo errado por aí.
CPI neles antes que o contratem, passe 30 dias nas mãos do preparador físico para recuperar o ritmo de jogo, mais 20 para se adaptar ao fuso horário, 10 para se entrosar com os novos companheiros e…daí tem uma contratura muscular. O ano acaba e com ele o sonho rubro-negro de ter um novo Paulo Henrique. Depois vocês me cobram.
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