por Paulo-Roberto Andel
Há exatos quarenta anos, a reprise de um gol emociona a todos os torcedores do Fluminense. É uma jogada muito conhecida, mas sua repetição só causa mais vontade de rever o lance.
“O lance, típico de laboratório, teve sua execução perfeita. Renê deitou e rolou, tocou para Aldo, que penetrou nas costas de Adalberto e, da linha de fundo, cruzou sob medida para Assis, quase na pequena área, testar para o barbante sem chances para o goleiro Fillol, que não teve oportunidade nem mesmo de se mexer”, assim publicou o Jornal dos Sports no dia seguinte ao bicampeonato carioca conquistado pelo Fluminense em 1984 sobre o Flamengo, diante de mais de 150 mil torcedores pagantes e, segundo muito gente séria presente, pelo menos outros 30 mil não contabilizados. Logo, é o título tricolor mais visto in loco pelo público em pelo menos meio século.
A jogada foi de cinema. Assis parou no ar e, com seu tipo esguio, lembrou uma escultura nas muitas fotos desse gol. Um momento épico e único.
Importante dizer que, embora seja uma justa comemoração tricolor, os 40 anos do bicampeonato carioca tricolor apontam lembranças inesquecíveis: o velho Maracanã lotado e popular, dois timaços em campo, a repercussão nacional e no exterior, o maior clássico do futebol brasileiro em ação e, claro, um jogaço para a história. O Fluminense imperou no primeiro tempo e merecia sair vencendo, mas não conseguiu. Na segunda etapa o Flamengo reagiu, mas aí surgiram dois gigantes tricolores: Paulo Victor, que pegou até pensamento, e Assis, que não tinha brilhado, mas guardou tudo para o lance monumental que definiu o título.
A vitória tricolor tem um detalhe que demonstra bem a força da equipe naqueles tempos: na decisão, o Fluminense jogou sem quatro titulares importantíssimos. Imagine qualquer equipe desfalcada de Ricardo Gomes, Branco, Jandir e Deley? Mas o Flu mostrou força e dobrou o grande rival cheio de feras como Fillol, Leandro, Mozer, Andrade, Adílio, Tita e Bebeto. Só isso…
A cabeçada monumental garantiu a Assis sua eternidade tricolor e o apelido de Carrasco. Até então, nenhum outro jogador havia alijado o rival em dois títulos consecutivos, com gols solitários no Maracanã. Ok, em 1983 o Fla x Flu não foi o último jogo do campeonato, mas significou a eliminação rubro-negra no último lance da partida.
Há gols que resumem tudo. A maravilhosa cabeçada de Assis, com Fillol estático no gol, foi o nocaute da decisão de 1984. Quarenta anos depois, sua imagem remete a um Fluminense vitorioso, elegante, raçudo e vocacionado para as conquistas. Um time que se impôs ano após ano e que deu ao Fluminense uma geração de jovens apaixonados e felizes. São muitos e muitos nomes, mas agora posso falar de dois amigos: o querido Raul Sussekind, criança à época que viu tudo de perto e perseguiu o Fluminense para sempre, e Beto Meyer, então adolescente, depois o grande colonizador da internet tricolor, uma figura excepcional que infelizmente nos deixou neste sábado.
Eu era um garoto feliz e ria à toa: depois da desgraça que foi perder Edinho em 1982 e de uma longa crise, o Fluminense passou a dar as cartas no Rio de Janeiro, capital do futebol brasileiro.
Assis faleceu há alguns anos, mas continua com sua imagem tão vibrante e apaixonante quanto naqueles incríveis anos 1980. Como se falava naquele tempo, ele e Washington juntos, o famoso Casal 20, literalmente “tocavam o terror” e escreviam lindos capítulos da história do meu time. Contam com minha admiração eterna e lágrimas de saudade, feito agora. Afinal, recordar é viver.
@p.r.andel
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