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35 ANOS SEM A JULES RIMET

19 / dezembro / 2018

por André Felipe de Lima


E já se passaram 35 anos que perdemos a maior conquista da História do nosso futebol, a taça Jules Rimet. Sim, perdemos para sempre o mais valioso de todos os troféus do planeta por uma incompetência que parece entranhada na pele do brasileiro como a mais irritante das sarnas. Sim, sem escapismos ou desculpas esfarrapadas, somos exatamente o que acham da gente os ditos “civilizados” do Velho Mundo ou os americanos que afirmam ter o melhor “way of life”, ou seja, somos um bando de milhões que se resume a carnaval, bunda de fora e irresponsabilidade. Isso, sem falar no “jeitinho brasileiro”, que acabou se desdobrando em um mar fétido e insalubre de corrupção.

Não dá mais para tapar o sol com a peneira. O Brasileiro perdeu sua brasilidade. Uma das provas mais emblemáticas foi o roubo da taça Jules Rimet, que conquistamos em definitivo após o passeio de 4 a 1 na Itália, na final da Copa do Mundo de 1970.

A pobre da taça já havia sido roubada uma vez, em Londres, três meses antes da Copa do Mundo da Inglaterra. Um cachorro maroto encontrou-a abandonada e solitária perto da roda de um carro. Mas o sumiço para sempre aconteceria na antiga sede da Confederação Brasileira de Futebol, a dona CBF, na rua da Alfândega, num prédio carcomido pelo tempo, sem a mais parca infraestrutura de segurança que impedisse uma atrocidade como a que aconteceu no dia 19 de dezembro de 1983.


A taça dava sopa na sala de reuniões, onde ficava exposta para quem quisesse admirá-la. Sim, a taça original ficava ali, na maior moleza para os larápios, enquanto a réplica (vá entender uma coisa dessas…) ficava num cofre. Jamais compreenderemos tamanha estupidez, que foi motivo para piadas das mais diversas, como a do Ruy Castro, por exemplo, quando ainda era repórter da Folha de S.Paulo.

O jornalista e hoje consagrado biógrafo listou alguns nomes que teriam “todos os motivos do mundo” para roubar a taça. Entre eles, o zagueiro Brito, da seleção de 70, que, supostamente, teria ficado fulo da vida por não ter sido ele o capitão de 70 e sim Carlos Alberto Torres. João Saldanha também entrou na berlinda, e por motivos óbvios. Era o treinador do escrete de 70 até os milicos pedirem sua cabeça. Sobrou para Ademir da Guia, “o craque mais injustiçado” por sempre ter sido preterido na seleção e João Havelange, que tinha verdadeira implicância com Giulite Coutinho, então presidente da CBF. De todos os suspeitos do Ruy Castro, somente Havelange sabia o lugar exato e todos os caminhos que levavam até a taça.

Mas Ruy Castro não deixaria de fora Obdúlio Varela, o capitão uruguaio que nos humilhou na fina da Copa de 50, em pleno Maracanã. Para o jornalista, o valente charrua nunca tolerou a ideia de a Jules Rimet pertencer ao Brasil, e para sempre. A lista não para aí. O cantor Fagner vivia promovendo peladas no sítio que tinha em Fortaleza. Em algumas delas, além de jogadores “profissas”, havia estrelas da MPB como Jorge Ben Jor, Paulinho da Viola e Chico Buarque, outro “suspeitíssimo” de ter roubado a nossa taça, que desejava “concedê-la” ao Politheama, seu time de peladas e de botão.

Xuxa também poderia perfeitamente entrar no seleto rol. Afinal, presentar com a Jules Rimet o namorado Pelé, no Natal, era mais que justo. Suspeita até o último fio louro dos cabelos. Mas nenhum outro levantou tanta suspeita, segundo Ruy Castro, senão Paulo Salim Maluf. “Este não precisa de motivo”, escreveu o jornalista.


Pilhérias a parte, não houve resistência naquele malfadado dia 19 de dezembro. Os bandidos renderam o vigia e levaram a Jules Rimet e outros troféus. Giulite era o sinônimo da vergonha. Para rebater as acusações de que a segurança da sede da CBF era vexatória, dizia que a polícia é que não oferecia segurança ao povo. Sujo falando do mal lavado.

No final das contas, em maio de 1988, quatro camaradas foram em cana e condenados pelo roubo da Jules Rimet, que desapareceu para sempre das nossas vistas. Sobretudo dos nossos sonhos, sob um impiedoso fogo da incompetência que a destruiu, o mesmo fogo da vergonha que reduziu a cinzas o Museu Nacional. É, não somos um povo, somos um bando festivo e alheio ao mundo que nos cerca. Até quando vamos permanecer rindo de nossas desgraças?

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