por Walter Duarte
Uma data distante: 21/02/1979, uma vaga lembrança, um gol indesejado. Grandes momentos que instintivamente revisitamos em nossas memórias. Nas minhas pesquisas das campanhas do Goytacaz nos campeonatos estaduais lembrei-me de jogo muito marcante contra o Flamengo.
Foi um jogo de expectativas para mim que evidentemente tinha esperança de uma vitória do Goytacaz, “OSSO DURO DE ROER” em seus domínios, em boa fase naquele ano, tendo vencido inclusive o Vasco de 3×2 em um jogo eletrizante. Apesar da insistência, não fui liberado desta vez pelos meus pais para ir ao jogo com os amigos, na maioria garotos com idade da faixa dos 12 anos, motivo de grande decepção para mim.
Restava então a companhia do velho e bom radinho de pilha e torcer imaginando estar ali, à beira do gramado. Confesso também que a presença de grandes craques na partida como: Zico, Adílio, Cláudio Adão, Carpegiani e cia. era um motivador a mais e uma certeza de muitas emoções e jogo bonito.
O Flamengo defendia uma invencibilidade de 25 jogos e encaminhava uma trajetória vitoriosa de títulos, porém sabia das dificuldades do jogo. Logo cedo, já se percebia grande aglomeração nos bairros centrais da Cidade e nos arredores do estádio Arizão. Uma festa bonita das torcidas se iniciava, com suas bandeiras sendo agitadas, um espetáculo à parte com grande cobertura da imprensa local e da Capital.
Muitos torcedores vinham de cidades vizinhas e até de outros estados para presenciar estes jogos. Podia imaginar toda aquela atmosfera do estádio e o colorido das torcidas. Os times entram em campo aquele barulho ensurdecedor dos fogos e os gritos ensandecidos dos torcedores são fielmente reproduzidos.
Lembro-me de um jogo muito disputado no primeiro tempo com um certo domínio do Flamengo, porém sem encaixar uma jogada efetiva de gol. O Goytacaz defendia-se bem e arriscava-se perigosamente nos contra-ataques e aquela tensão tomava conta de mim esperando o locutor soltar aquele grito de gol.
Na defesa do Goyta jogava um zagueiro chamado Orlando Fumaça que tinha fama de violento, e chegou a ter uma passagem pelo Vasco no início da década de 80. O jogo segue no seu segundo tempo e, logo aos 7 minutos, Zico (sempre ele) faz o gol único da partida. Aguardava confiante uma reação do Goyta, quem sabe com um gol salvador do nosso artilheiro, o saudoso Zé Neto, porém nada mais ocorreu. Querendo absorver o resultado vou para a rua “arrastando” as correntes da frustração e reclamando mais do que um “cachorro atropelado”.
Pois bem, tomado pela curiosidade dos detalhes desta partida surge um fato novo para mim. Este gol do Zico não foi mais um da sua gloriosa carreira. Naquele instante após uma “TRAMA DIABÓLICA” com Claudio Adão e Adílio o Galinho fez seu gol 245 na carreira vencendo a cidadela do goleiro Augusto, suplantando o seu ídolo Dida, tornando-se assim o maior artilheiro da história do Flamengo. Detalhes de uma época de ouro do Campeonato Carioca, e das artimanhas do destino.
Sem saber, estava acompanhando um jogo histórico que teve cobertura diferenciada da mídia, inclusive reportagem especial da Revista Placar. Um jogo que parecia ser mais um nas nossas vidas e que tempos depois se tornou diferente para mim, mesmo sem o desfecho desejado.
Sigo procurando trazer à tona minhas recordações e este saudosismo insistente, exorcizando meus “fantasmas” futebolísticos. Certamente outras lembranças surgirão do nosso alegre futebol e ficarei feliz em contá-las para vocês. Eventos particulares de grandes jogos e personagens que ficaram adormecidos em algum lugar do passado.
Súmula do jogo
Goytacaz 0 x 1 Flamengo
-Local: Estádio Ary de Oliveira e Souza – Campos RJ
Juiz: Moacir Miguel dos Santos (RJ);
Renda: Cr$ 522.620,00;
Público (PAGANTE): 13.066;
– Gol: Zico aos 7 min do segundo tempo;
Cartão Amarelo: Zé Neto e Marquinho (Goyta), e Cláudio Adão (FLA);
– Goytacaz: Augusto, Totonho, Fumaça, Eurico Souza e Serginho. Marquinho, Manuel “Português” e Ronaldo, Piscina, Zé Neto e Zé Roberto.
– Flamengo: Cantarele, Toninho, Rondineli, Manguito e Júnior. PC Carpegiani, Adílio e Zico, Reinaldo, Cláudio Adão e Júlio Cesar “Uri Gueller”.
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