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CRAQUE SEM MÁSCARA

entrevista e texto: Fernanda Pizzotti | edição de vídeo: Daniel Planel 

Os botafoguenses da antiga com certeza lembram de Paschoal de Gregório. O jogador niteroiense foi destaque no Botafogo entre as décadas de 30 e 40, mas a carreira começou no tradicional Clube Canto do Rio, na cidade sorriso. Paschoal não era um cara de muitas palavras. Fechado, contido, mas muito raçudo e respeitado por todos dentro e fora de campo. Destro, era conhecido como o “Craque sem Máscara” e era notícia, diariamente, nos jornais esportivos da época.

Com apenas 1,64 m, cabeceava como ninguém. Paschoal também tinha múltiplas funções em campo: ponta-direita, meia-direita e centroavante. Pelo alvinegro jogou entre 1937 e 1943. Ao todo, 159 jogos e 105 gols. Não foi pouca coisa, não!

Com tanto gol assim em tão pouco tempo, foi fácil conquistar as artilharias. No Campeonato Carioca de 1940, ele foi o artilheiro ao lado de Carvalho Leite e Patesko, seus fiéis companheiros de ataque, todos com 10 gols. No mesmo ano, Paschoal foi o artilheiro do Botafogo com 22 gols.


Antes de se destacar no alvinegro, o craque deu o pontapé no futebol amador no Flamengo Sport Club e, em seguida, atuou no Byron Football Club, no Barreto, em Niterói. Finalmente, Paschoal se transferiu para o time niteroiense Clube Combinado 5 de Julho. Mas a carreira profissional começou mesmo no Cantusca.

Já contratado pelo Botafogo, Paschoal se destacou no jogo Botafogo 2 x 2 Flamengo, em 04 de outubro de 1937. Quem tem estrela, tem tudo! O artilheiro entrou com o jogo em andamento e entusiasmou a torcida alvinegra pelas jogadas, futebol coletivo e regularidade técnica apresentada durante o tempo em que esteve em campo.

Mesmo com a imprensa carioca o denominando como o “Craque sem Máscara”, pois era avesso ao estrelismo, Paschoal continuou sereno frente ao rebuliço que era feito pelas suas atuações. Esses elogios ao seu futebol, algumas vezes, causavam ciúmes em alguns jogadores do elenco. Mas, sem protestar, soube enfrentar o imbróglio, mantendo-se sempre distante das câmeras dos fotógrafos.

– Uma frase emblemática mostra a humildade dele! Ele dizia que era predestinado e que, por isso, não caía bem nele o cartaz que nos outros era quase uma obrigação! – conta o sobrinho-neto, Roberto Pinto.

Atuações emblemáticas


Em partida realizada em 01 de janeiro de 1939, em General Severiano, mas válida pelo Campeonato Carioca de 1938, o Botafogo venceu o Madureira, que na época era uma equipe competitiva, por 11 a 3, tornando essa uma das maiores goleadas da história do alvinegro.

Essa vitória valeria como uma desforra, já que o Madureira havia vencido a partida do turno, dificultando as pretensões do Glorioso em alcançar o título do Campeonato Carioca. Nessa partida, Paschoal marcou nada menos que 6 gols, comandando o ataque do Botafogo e levando-o as manchetes dos jornais da época como o “scorer” do dia, ou seja, o melhor em campo.

O Botafogo jogou com: Aymoré, Lino e Bibi; Zezé, Martim e Canalli; Alvaro, Carvalho Leite, Paschoal, Perácio e Patesko, enquanto o Madureira atuou com: Alfredo, Norival e Tuíca; Gringo, Paulista e Alcides; Adilton Baleiro, Ozéas, Jair e Anatole.

Paschoal de Gregório 4 x 3 Vasco da Gama

Essa aqui também vale muito a pena ser contada! No dia 21 de julho de 1940, em São Januário, Botafogo e Vasco se enfrentavam por dois campeonatos (Campeonato Carioca e Torneio Rio–São Paulo). O Vasco realizava uma atuação impecável até os 33 minutos do primeiro tempo. Aos 12, o placar já marcava 3 a 0 para o Vasco.

Mas eles não contavam com Paschoal! Aos 34 minutos do primeiro tempo, o Botafogo se lançou à frente comandado pelo “craque sem máscara”, que se recuperava de uma contusão no pulso. Após forte chute de Patesko e rebatida do zagueiro vascaíno Oswaldo, ele emendou com violência para marcar. Ao fim do primeiro tempo, Paschoal de cabeça fez o segundo. Na etapa final, aos 14 minutos, em escanteio cobrado por Tadique, ele chutou de bate-pronto e empatou o jogo. A virada heroica do Botafogo se deu em lançamento de Tadique com Paschoal finalizando de cabeça.


O time do Botafogo jogou com: Aymoré, Grahan Bell e Araraquara; Procópico, Zezé e Canali; Tadique, Carvalho Leite (Zarcy), Paschoal, Cesar e Patesko, enquanto o Vasco da Gama atuou com: Chiquinho (Nascimento), Oswaldo (Jahú) e Florindo; Figliola, Zarzur e Dacunto; Lindo, Alfredo I, Villadoniga, González e Orlando.

Mas além da vitória do Botafogo, iluminada pela estrela de Paschoal, Roberto Pinto relembra uma curiosidade familiar. Segundo ele, membros da família de Paschoal contam que nessa partida um parente distante da família, de origem portuguesa e torcedor vascaíno, foi assistir ao jogo no estádio e deixou São Januário rumo a Niterói assim que o Vasco da Gama marcou o terceiro gol.

– Estava indo para casa contando vitória antes da hora! Ele chegou na vila em Santa Rosa zombando de todos, quando recebeu a notícia de que Paschoal tinha feito quatro gols e virado a partida. O jogo só acaba depois que o juizão apita! – relembra Roberto!

A carreira de Paschoal foi interrompida algumas vezes por conta das lesões sofridas. Dias antes do embarque do Botafogo para a disputa de um torneio no México, em 1941, ele sofreu uma lesão no tornozelo que o impediu de realizar o sonho de atuar no exterior. Mas sua maior frustração, no entanto, foi não ter participado de uma Copa do Mundo. As lesões e a eclosão da Segunda Guerra Mundial o impediram de realizar esse sonho.

– Paschoal tinha 31 anos e era considerado velho para o futebol, diferente dos dias de hoje que a gente vê jogadores com 37 e 38 anos atuando em forma. – conta Roberto.

Após a carreira futebolística, ele passou a atuar no comércio e na Inspetoria de Trânsito de Niterói. Paschoal teve 14 irmãos, casou-se com Abigail Pereira de Gregório, com quem teve uma filha chamada Tereza.