paredão da colina
entrevista: Sergio Pug|iese | texto: André Mendonça | fotos: Marcelo Tabach | vídeo e edição: Daniel Planel
Para nós, do Museu da Pelada, poucas coisas são tão prazerosas quanto pegar a estrada para ir atrás dos nossos ídolos e ouvir grandes histórias de quem nos deu muitas alegrias no passado. O personagem da semana é Ita, goleiro do Vasco na década de 60, que nos recebeu com muito carinho em sua casa, em Guapimirim, município ao norte da capital do Rio de Janeiro, e nos fez voltar no tempo ao mostrar seu vasto acervo.
Com uma bela camisa azul do Vasco personalizada, o “Paredão da Colina” abriu um largo sorriso ao avistar nossa equipe. A iniciativa do encontro partiu de Márcio Figueiredo, nosso parceiro de longa data, que apesar de flamenguista não esconde a admiração pelo goleiro que teve uma grande passagem pelo rival.
O curioso é que a brilhante trajetória de Ita no futebol começou da pior forma possível. Devido ao fraco desempenho no ataque das peladas de Alfenas, no sul de Minas Gerais, foi obrigado pelos colegas a se virar embaixo dos paus:
– Eu era tão ruim de bola na frente que a rapaziada falou: “só joga se for no gol”. Era na época do Castilho (goleiro do Fluminense), eu era fã dele e passei a me inspirar nele nas peladas.
Antes de formar uma das defesas mais sólidas do Brasil, escoltado por Coronel, Bellini e Paulinho de Almeida, fez parte de um time semi-profissional montado por dois grandes fazendeiros de Alfenas e passou a se destacar, sobretudo, nas cobranças de pênalti.
Durante a resenha, o arqueiro fez questão de lembrar do dia em que o time misto do Fluminense foi disputar um amistoso cidade. Na ocasião, defendeu dois pênaltis cobrados por Telê Santana e garantiu a vitória do “azarão”.
– Eu era muito bom em pênalti, ficava me mexendo em cima da linha para desestabilizar os cobradores – lembrou antes de revelar o truque encenando.
Aos 21 anos, após muitas defesas de cinema em Alfenas, despertou o interesse do Vasco e iniciou sua trajetória no clube. Em um dos maiores times do Brasil, com uma concorrência gigantesca, somente um milagre faria o quarto e jovem goleiro ter uma oportunidade entre os titulares, mas ela surgiu e não poderia ser melhor.
Tratava-se da partida que marcava o retorno de Didi do Real Madrid para o Botafogo e os concorrentes Barbosa, Hélio e Miguel, do Vasco, se lesionaram na semana que antecedia o clássico. A chance caiu no colo de Ita, que parou o poderoso ataque formado por Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo, e assegurou a vitória por 2 a 0 no Maracanã.
A boa atuação estampou as manchetes dos jornais que, junto com fotos históricas, Ita guarda com carinho no acervo: “EMERGÊNCIA REVELOU NOVO ÍDOLO DA TORCIDA VASCAÍNA: ITA”.
– Depois dessa partida, garanti minha vaga e nesse ano ainda fui o goleiro menos vazado do campeonato!
Vale destacar que a façanha ocorreu em uma época de ataques inesquecíveis como o do Botafogo, de Garrincha, e o Santos, de Pelé. Em relação aos duelos com o Rei do Futebol, Ita garantiu que nunca saiu derrotado, mas lembrou de uma história divertida.
– A gente estava ganhando por 2 a 0 e eu havia prometido para a minha mulher que compraria um fogão com o dinheiro do bicho. Faltando três minutos para acabar, Pelé fez dois gols, empatou o jogo e o bicho ficou pela metade – contou para a risada de todos.
A passagem pelo Vasco durou sete anos e quando começou a perder espaço se transferiu para o América-RJ. Depois disso, defendeu o Remo e encerrou a carreira no Ceará. Toda a carreira do goleiro está documentada através de fotos que tornaram a resenha ainda mais robusta.
No fim, ainda fomos brindados com a presença de Valda, mulher de Ita e lendária nadadora que também defendeu o Vasco. Aí a resenha ficou completa!