PERSONAGENS DO MILÉSIMO
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Perpetuo
Na noite do dia 19 de novembro de 1969, 65.157 pagantes foram ao Maracanã assistir ao duelo entre Vasco x Santos na expectativa de assistir ao milésimo gol de Pelé. Até que aos 37 minutos do segundo tempo, o árbitro Manoel Amaro de Lima aponta a cal após um choque entre o Rei do Futebol e o zagueiro Fernando. O resto é História.
Até aí nenhuma novidade, mas o que muitos não sabem, sobretudo a garotada mais nova, é que o lance que originou o pênalti rende resenha até hoje, quase 50 anos depois.
Por isso, graças ao craque Jeremias, ídolo do América-RJ, a equipe do Museu da Pelada foi até Maricá tirar teima com Cacá, o bandeirinha daquela partida, e o zagueiro Fernando, responsável pela infração no Rei do Futebol.
– Eu já jogava no América-RJ, mas não poderia ficar de fora daquele jogo que entraria para a história. Fui para a arquibancada com o meu primo Marcos! – revelou Jerê.
O xerifão do Vasco jura de pés juntos que nada fez e que Pelé usou sua malandragem para cavar o pênalti:
– Ele entrou na área, bateu na minha perna e o árbitro marcou pênalti. Tínhamos tantos árbitros bons no Rio, mas escalaram um juiz lá de Pernambuco. (…) Me parece que as coisas já estavam meio arranjadas para ser no Maracanã.
Cacá tem opinião contrária ao zagueiro. Acontece que na festa de lançamento do livro Craques do Passado, de Leonardo Barros e Kiko Charret, o bandeirinha havia dito que o lance foi normal e o árbitro errou ao apontar a cal:
– Eu sou seu amigo e não queria magoá-lo naquela festa, mas para mim foi pênalti! – revelou para a surpresa de todos.
Visivelmente chateado com o suposto erro do árbitro até hoje, Fernando teve uma trajetória que vai muito além de um lance polêmico. Durante a carreira, atuou por Juventus-SP, Vasco, Bangu, Vitória, Bahia e outros clubes baianos, sempre honrando as camisas.
No Vitória, fez parte de um timaço que contava com o saudoso craque Mário Sérgio, em 1972. Ao falar do amigo, Fernando não conteve as lágrimas.
– Fui padrinho de casamento dele e ele tem um filho chamado Fernando em minha homenagem. – lembrou.
Depois que pendurou as chuteiras passou a se dedicar a carreira de treinador. Desde que assumiu o comando da escolinha do América, por indicação de Jeremias, já foi pentacampeão da região e os troféus estão espalhados por sua casa.