A PROMESSA INTERROMPIDA
texto: Alex Palma
Desde cedo eu fui muito apaixonado pelo futebol. E muito curioso também. Portanto eu cresci ouvindo com muita atenção as histórias contadas pelo meu pai. A primeira de todas que me recordo foi o sufoco que ele passou com meu tio (Alfredo Bocão do Grajau, fundador do Clube dos 18 e mencionado algumas vezes no Museu da Pelada) no jogo Brasil x Paraguai pelas eliminatórias da Copa de 70.
Estimulado pela minha curiosidade e atenção, meu pai me contava muitas histórias e folclores do futebol. Em uma época sem Google era dessa fonte que eu me nutria. Pois bem, até alguns anos atrás minha família tinha uma casa em Araruama e me lembro que criança lá pelos 8 ou 9 anos eu fomos comprar pão e lá havia um quadro com um jogador do Flamengo em close em pose de pôster de campão.
Sempre que íamos lá meu Pai ficava parado fitando a imagem por alguns segundos em silêncio para em seguida repetir: “Esse aí jogou muito! “. E meu Pai me contava o jogo de 66 contra o Bangu, o salseiro que o Almir criou e também contava a admiração pelo time do Bangu. Repetia de cor a escalação: Ubirajara, Fidélis, Mário Tito……
O Novo Garrincha
Um dia fui apresentado ao personagem, o próprio Carlos Alberto, proprietário da padaria. Daí em diante os anos foram passando e sempre que eu o encontrava a gente batia um papo sobre a vida de jogador, dos “causos”, a decisão de 66 e tudo mais.
Pude confirmar com vários contemporâneos a opinião do meu Pai e a resposta sempre foi a mesma: um baita jogador do seu tempo!
Num desses encontros eu falei isso com ele, que pessoas que o viram jogar só tinham elogios grandiosos sobre ele. Eu me lembro ter comentado que ele era uma espécie de Leandro (Lateral- direito) : ele conseguia arrancar elogios de torcedores de todos os times.
Nesse dia ele estava com uma bolsa e nela havia diversos jornais antigos com matéria sobre ele . Uma das publicações (se não me engano Jornal dos Sports) bradava: “O Novo Garrincha !”.
Aquilo mexeu demais comigo: a lembrança do Carlos Alberto apenas sustentada pela tradição oral e pela lembrança das pessoas do seu tempo. O fim de sua carreira justamente num confronto decisivo no Maraca e após um ano parado por conta de uma entrada dura. Mas o que ficou na história foi a confusão armada pelo Almir.
Museu da Pelada resgatando o passado……
O Museu da Pelada começando no Jornal O Globo foi o embrião do que viria a se tornar hoje já demonstrando o apreço em resgatar as melhores histórias, lembranças e personagens. Desde o seu surgimento nas mídias sociais venho acompanhando e interagindo com as publicações.
Curiosamente alguns assuntos marcam presença no Museu e um deles é a final do carioca de 1966. Seja pela visão do Ubirajara, seja pelo Silva Batuta. Enfim numa dessas eu fiz um comentário sobre o Carlos Alberto e para minha surpresa o próprio Sérgio Pugliese me deu seu telefone porque queria saber mais sobre o Carlos Alberto. Desde então nos falamos até que surgiu a possibilidade de encaixar uma parada em Araruama para fazermos a resenha com o Carlos Alberto.
A Resenha
Eu que atualmente moro em Petrópolis não pensei duas vezes e com a ajuda do Renato, dono do “Bar do Cabeção” (reduto de vascaínos em Araruama), consegui agendar como Carlos Alberto.
Saí de Petrópolis as 6h da manhã, peguei meu amigo Alexandre Caroli (amigo e colega de profissão do Sérgio) na Tijuca e tocamos para Araruama. Encontramos o Sérgio e o cinegrafista Daniel Planel e fomos encontrar com o Carlos Alberto.
A resenha transcorreu em clima de muita descontração. Todos amantes do futebol e do mundo da pelada.
Alguns casos eu já conhecia, mas foi um prazer ver o Carlos Alberto poder contar a história do seu tempo, seu drama, a simplicidade daquele tempo onde jogadores não eram pop-stars. Ele contando que após ser campeão no Maracanã com 200 mil pessoas presentes ter voltado para sua casa de ônibus é a prova de que era preciso registrar esse personagem no acervo digital do Museu!
Espero que o público fiel do Museu da Pelada se divirta! Que desfrute dessa lembrança nostálgica assim como eu desfrutei!
Vida longa ao Museu e como escreveu o Sérgio numa linda homenagem ao Mendonça, “Qual a função do Museu da Pelada? Lustra o ídolo, regar sua história e protege-la dos efeitos do tempo”. Pois é … conseguimos fazer isso com o Carlos Alberto!