Como é a vida de Adriano Gabiru no Tupi, da segunda divisão gaúcha
texto: Rafael Diverio | fotos: André Ávila
Os dirigentes do Tupi, de Crissiumal, tiveram acesso ao número do WhatsApp de Adriano Gabiru em 14 de janeiro. Queriam contratar o autor do gol que deu o título mundial ao Inter, em 2006, para disputar a segunda divisão do futebol gaúcho. No dia seguinte, mandaram uma mensagem de texto. Gabiru visualizou, mas não respondeu. Uma segunda mensagem foi enviada, sem retorno. Mais algumas tentativas ficaram sem resposta. Até que o diretor de futebol Junior Mujica resolveu mudar a estratégia: gravou um áudio e endereçou ao jogador de 39 anos, que àquela altura estava em Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo. Pouco depois, também por áudio, Adriano respondeu. Aceitava a proposta e se apresentaria dentro de alguns dias.
Começou assim a aventura em Crissiumal do herói de Yokohama, aquele camisa 16 que há pouco mais de 10 anos mudou a história do Inter — e da rivalidade Gre-Nal — ao receber passe de Iarley e marcar o gol da vitória sobre o Barcelona. No noroeste gaúcho, Carlos Adriano de Souza Vieira vive sua terceira passagem por times do interior do Estado.
Desta vez, o cenário não é o maior município da região da Campanha, Bagé, onde Gabiru defendeu o Guarany, ou Panambi, com quase 50 mil pessoas, terra do time homônimo ao qual o jogador também emprestou sua fama. Ele está em uma cidade pequena e pacata — são 14 mil habitantes, mais da metade na zona rural.
Esta nova aventura pode ser a última. Às vésperas de completar 40 anos, em agosto, o alagoano de Maceió pouco fala em aposentadoria. Apesar de ainda gostar de jogar, de treinar e da “resenha” com os colegas, o corpo não é mais aquele que o levou aos títulos de campeão brasileiro, pelo Atlético-PR de 2001, da América e do mundo, pelo Inter; não é mais aquele corpo que vestiu a camisa da Seleção Brasileira em três jogos nos primeiros anos do século. Gabiru está magro, participa de todas as atividades — um olhar mais atento, inclusive, nota que está em melhor forma do que praticamente todos os seus companheiros —, interage, até brinca. Mas, nesta idade, são raros os que continuam atuando profissionalmente. Mais raros ainda aqueles que ainda mantêm os salários altos, como Zé Roberto no Palmeiras.
Financeiramente, a proposta para deixar o Taboão da Serra não era a ideal — na teoria. Em São Paulo, Gabiru tinha previsão de ganhar R$ 4,5 mil por mês (o mesmo valor pago ao uruguaio Acosta, ex-Náutico e ex-Corinthians, a outra “estrela” do time). Mas o clube não é propriamente um centro de organização, e a terceira divisão paulista flerta com o amadorismo. Tanto que Acosta e Gabiru, apresentados à imprensa em um supermercado, não estavam com os vencimentos em dia.
Por isso, a oferta do Tupi de pagar R$ 2,2 mil a cada 30 dias acabou vindo em boa hora. O dinheiro é arrecadado pela Associação de Colorados de Crissiumal, um grupo de torcedores do Inter que convoca seus integrantes a contribuir com qualquer valor. O contracheque é um bom termômetro da carreira de um jogador. Na primeira passagem de Gabiru pelo interior gaúcho, em 2012, ganhou R$ 70 mil pelos três meses de disputa da Divisão de Acesso pelo Guarany de Bagé. Em 2015, o Panambi pagou cerca R$ 15 mil por três meses de contrato.
Na manhã do dia 15 de março, horas antes de sua estreia, Gabiru e os demais jogadores foram chamados ao Estádio Rubro-Negro para acertar o pagamento do mês. Às 11h25min, Gabiru saiu do vestiário com o envelope nas mãos, guardou-o no bolso da bermuda, despediu-se dos colegas e deixou o estádio rumo a uma das cinco agências bancárias. Precisava depositar as notas na conta de sua mulher, Andrea, que mora em Curitiba com os filhos Lucas e Luís, gêmeos de 13 anos, e Isabelle, de 12 (o jogador tem ainda outro filho, Adriano, de um primeiro relacionamento. O rapaz de 19 anos vive em Maceió).
— Dá tempo de ir lá, é rapidinho. Depois te levo ali para cortar o cabelo e voltamos para almoçar — oferece-se o meio-campista do Tupi Giliardi, que virou um amigão de Gabiru há dois anos.
Os dois se conheceram quando jogaram juntos no Panambi. Natural de Pelotas, com passagens por mais de uma dezena de clubes — muitos deles no interior gaúcho —, Giliardi, 34 anos, é a referência local do alagoano. Foi, inclusive, o intermediário da negociação que o trouxe de Taboão da Serra para Crissiumal.
— Foi o Giliardi quem me disse para vir para cá. Ele é meu amigão mesmo, ajuda. Já até fui a Pelotas com minha família e fiquei na casa dele — conta Gabiru.
— Ele é meu irmão que conheci depois de mais velho. Trocamos ideia, nossas famílias se dão bem. Lá em Pelotas, levei na Lilian Lanches (tradicional casa de baurus). Ele disse que adorou — comenta Giliardi, que, a bordo de seu gol, empreendeu o circuito estádio-agência-barbeiro-estádio em 35 minutos.
No primeiro evento de marketing, jogador provocou polêmica
Tudo começou quando Giliardi, depois da pré-temporada, decidiu sair do clube paulista. Insatisfeito com a estrutura, com a desorganização e com atrasos de pagamentos, entendeu que o sacrifício de ficar longe da família não estava sendo recompensado. Disse sim à sondagem do Tupi e à proximidade de casa. O que, se formos colocar na ponta do lápis (não do mapa), é uma meia verdade: para se deslocar do sul ao noroeste do Estado, são mais de sete horas de carro. No avião, seria possível fazer São Paulo-Pelotas, passando pelo aeroporto Salgado Filho, em menos tempo.
— Mas ia gastar mais, né? — argumenta Giliardi.
Já em Crissiumal, sugeriu aos dirigentes que buscassem Gabiru. Atestou que o amigo estava em boa forma física, havia disputado quatro partidas em São Paulo e ajudaria o time. Além, claro, de ser uma peça de marketing, sempre importante para uma comunidade que vive apartada dos olhares do futebol profissional.
A publicidade pesou para os dirigentes. Viram na contratação do jogador a possibilidade de atrair novos patrocinadores que permitissem aumentar um pouco a folha salarial — entre atletas e comissão técnica, o Tupi gasta R$ 29 mil mensais. Rivais diretos, como Pelotas e Esportivo, por exemplo, investiram mais do que o triplo para tentar retornar à elite do Gauchão.
Neste acordo de marketing, há uma cláusula. Gabiru está autorizado pela direção a participar de eventos dos consulados e associações de colorados da região — desde que não interfiram em seu desempenho em campo. Pois já na primeira festa, o jogador se envolveu em uma polêmica. O consulado do Inter em Santa Rosa pagou R$ 600 para que ele comparecesse, contasse a história daquele gol sobre o poderoso Barça e tirasse fotos com dezenas de pessoas vestindo vermelho e branco. O problema é que o ídolo se empolgou, digamos. Os relatos são de que a cerveja de graça, a comemoração e, vá lá, o calor deixaram-no com muita sede. O excesso de tudo acabou transformado em um vídeo de torcedores. Que provocou um efeito cascata: uma pessoa recebe aqui, outra ali, outra põe em um grupo e, quando você vê, o Estado inteiro tem acesso às imagens de Gabiru segurando uma long neck e falando meio enrolado que vai “num pagode”.
A cena motivou uma reunião dos dirigentes. Eles decidiram mantê-lo no grupo. A justificativa: o atleta estava de folga, autorizado pela direção, e a festa não interferiu em seu desempenho, afinal ele não tinha condições legais de jogo e só entraria em campo dali a 10 dias.
— Eu não estava nem no BID (o registro oficial na CBF) — defendeu-se o jogador em entrevista às rádios locais, quando perguntado sobre a polêmica.
No fim das contas, até que tivesse condições de pisar no gramado e vestir a camisa, o único lance de marketing acabou sendo, mesmo, o vídeo viralizado. Porque, fora isso, clube e atleta entenderam que é melhor jogar primeiro e depois aparecer.
Daí que a chegada de Gabiru a Crissiumal não teve a celebração prevista. Ele viajou de Porto Alegre a Ijuí em um domingo. Integrantes da direção buscaram-no na rodoviária e o levaram à nova casa sem qualquer tipo de escolta de torcedores, foguetório ou alarde especial nesses 100 quilômetros de estrada.
Na cidade, Gabiru foi instalado no Parque Balneário Amorim, uma pousada bem conhecida. Há cabanas que, no verão, atraem turistas interessados em repousar, refrescar-se em piscinas com toboágua, preparar churrascos, jogar sinuca e isolar-se um pouco do resto do mundo. Além dessas cabanas, há também uma área que se assemelha a um hotel, com quartos individuais. É ali onde estão Gabiru e Giliardi, além do técnico Leco, do preparador físico Sílvio Rogério da Silva, dos atacantes Eraldo e Cléberson e dos zagueiros Léo Korte e Ílson, o Galo.
— É, ele está aqui, sim. Mas quase não aparece. Toma café na dele, conversa baixinho com o pessoal. Estou acostumado a receber o pessoal do futebol, não muda muito — pondera Luis Fernando Classmann, um dos donos da pousada, que prepara parte da comida e, apaixonado por futebol, faz companhia ao pessoal.
Gabiru trabalha envolto em um misto de idolatria, admiração e surpresa. Idolatria, claro, dos colorados. Admiração pela trajetória de clubes grandes — antes do Inter, defendeu Atlético-PR, Cruzeiro e Olympique de Marselha-FRA; depois, Sport, Figueirense e Guarani —, títulos e convocação para a Copa das Confederações de 2003 com a Seleção de Carlos Alberto Parreira. E surpresa pela humildade com que trata os companheiros e se dedica nos treinamentos. Como conta o atacante Mumuzinho, crissiumalense, 18 anos recém-completados:
— Ele me deu conselhos, falou comigo.
— Que tipo de conselhos?
— Ah, de vida. Disse para me cuidar, não sair na noite…
— O Gabiru te disse para não sair na noite?
— É.
— Ok.
O preparador de goleiros Beto, também campeão mundial, mas com o Grêmio em 1983, fala:
— Ele tem muita humildade, vai acrescentar e nos ajudar aqui.
O técnico Leco, que comandou a equipe nas duas primeiras semanas antes de ser demitido, no dia 20 de março, vai na mesma linha.
— Fiquei impressionado com a vontade dele. Não reclama de nada. Na verdade, ele nem fala muito — diz o treinador, fazendo referência à notória timidez de Gabiru.
Timidez que o acompanha desde a infância pobre e cheia de dificuldades em Maceió.
O futebol apareceu como chance de escapar da pobreza. Ao mesmo tempo, afastou-o da escola. Mas a aparência — corpo magro, pele escura — e, aos olhos do ex-goleiro Flávio, colega no Atlético-PR, a semelhança com os gabirus, uns ratos pretos típicos de Alagoas, motivaram o apelido. Que Gabiru adotou sem reclamar.
Não criticar, inclusive, é uma característica do jogador. A impressão, no fim das contas, é que enquanto Gabiru puder jogar, “tudo está bom”
— Fui entrevistá-lo na rodoviária de Ijuí. Mas ele só me disse: “Estou feliz, estou contente de estar em Crissiumal” — conta o jornalista Luiz Henrique Berger, da Rádio Progresso.
Ao repórter Renan Turra, de Zero Hora, as palavras no dia da confirmação de sua contratação foram:
— É bom demais, estou feliz pra caramba.
Sobre o Taboão da Serra, em nova entrevista a Zero Hora, disse:
— Não tenho muito o que reclamar de lá. Estava bom também.
O único desconforto que demonstrou, ao menos inicialmente, foi o de ter as lentes das câmeras apontadas para si no último treino antes da estreia. A toda hora, mirava o repórter fotográfico André Ávila, de Zero Hora, fazia uma expressão contrariada. Depois, ficou incomodado ao ser chamado para gravar uma entrevista. Ela seria no Parque Amorim, mas acabou sendo na arquibancada do Estádio Rubro-Negro.
Gabiru começou a conversa meio arredio, mas logo entregou a explicação para todo esse mal-estar: Adriano desconhece o tamanho que tem.
— Sabe que até hoje não me caiu a ficha? — responde ao ser perguntado sobre o que representou o gol em Yokohama.
Por não compreender sua proeza é que se julga apenas mais um atleta correndo atrás da bola no Interior. Por consequência, demora a perceber que cada passagem sua pelo Rio Grande do Sul sempre atrairá olhares.
É Giliardi quem tenta lhe explicar um pouco mais sobre sua importância:
— Sugeri que ele abrisse uma escolinha aqui no Estado depois de parar. Afinal, quem não iria querer jogar no time do cara que ganhou do Barcelona?
De fato, o único projeto sólido que Gabiru apresenta para quando largar a carreira é de ensinar crianças a jogar bola. E sabe que sua grife tem mais peso no Rio Grande do Sul. Por enquanto, tudo é imaginação. Adriano diz que ainda não pensa em parar, mesmo beirando os 40 anos:
— Quem sabe disso é Deus. Primeiro quero atingir meus objetivos aqui em Crissiumal.
Morar no Estado não será problema para o alagoano. Como sempre, alega estar “muito feliz” e ser “bem recebido” em solo gaúcho. Mas sua família, por enquanto, segue em Curitiba. O apartamento da capital paranaense é uma das duas propriedades que Gabiru diz ter. A outra seria uma casa na zona sul de Porto Alegre.
Boa parte do dinheiro que ganhou em polpudos contratos com alguns dos maiores clubes brasileiros, bem como os euros recebidos na passagem pela França, se perdeu em algum momento. Gabiru não quer falar disso aos jornais. A amigos, revelou que “foi roubado por empresários e dirigentes”. Além de ter gastado um pouco mais do que poderia. Segundo algumas pessoas próximas, se não fosse Andrea segurar a barra, a situação estaria ainda pior. Assim, os R$ 2,2 mil que Gabiru depositou no banco, na carona de Giliardi, fazem diferença no orçamento familiar. Para completar a renda, Andrea vende cosméticos Mary Kay.
— Ela está recém começando, ainda não é daquelas chefes que têm o carro rosa — comenta o jogador.
Há outra expectativa na família. Gabiru move um processo trabalhista contra o Inter. Os valores exatos não são divulgados, mas giram em torno de R$ 3 milhões. O caso está em segunda instância na Justiça gaúcha. O clube tentou um acordo, mas a proposta — que seria de dar um emprego ao ídolo como uma espécie de embaixador, a rodar o Brasil para falar do título, tirar fotos e agradar torcedores — não foi aceita.
— Tenho um advogado em Curitiba cuidando disso. Prefiro não falar do processo — avisa Gabiru.
Na estreia, camisa 8 personalizada acabou ficando no vestiário
Então, que se fale de futebol.
Gabiru, depois de um imbróglio burocrático envolvendo Taboão da Serra, Federação Paulista e CBF, finalmente foi inscrito na Divisão de Acesso gaúcha. Com a liberação dos trâmites, poderia, enfim, vestir sua camisa 8 personalizada: é a única do grupo que tem o nome atrás, “A. Gabiru”. O 16, que o consagrou no Inter, ficaria em segundo plano. Queria o número que usou no Atlético-PR e na Seleção. Mas não foi bem assim.
Na quarta-feira, 15 de março, pouco antes de receber seu salário, foi chamado para um bate-papo com Leco, que comandava sua segunda partida pelo clube e estava ameaçado depois de levar 4 a 0 do Lajeadense na estreia (Jair Galvão o substituiu na segunda-feira, 20). O treinador botou a mão sobre os ombros do jogador, e os dois caminharam em direção ao centro do campo. Conversaram, de costas para o túnel que dá acesso aos vestiários e à arquibancada. Mais cedo, no café da manhã, o técnico havia comentado:
— As pessoas acham que o que a gente faz é fácil. Não é. Muitas vezes, não entendem algumas escolhas. Mas é que temos que deixar peças como opção para mudar o jogo se precisar. Imagina se escalo tudo o que tenho de bom e não dá certo? Fico sem alternativas.
Às 15h, o recado fez sentido. A súmula da partida havia sido liberada, e a escalação do Tupi tinha Gabiru no banco. Vejam só, com a número 16.
A essa altura, o São Luiz já havia deixado o Parque Balneário Amorim. O clube usou as dependências da pousada, localizada a 500 metros do estádio, como vestiário. Lá, o técnico Leco deu sua palestra, explicou como queria atacar, pediu atenção na defesa e apontou o que considerava ser os pontos fracos do adversário.
Na torcida local, era inegável o entusiasmo. Apesar de certa decepção provocada pelo comportamento registrado naquele vídeo, ver Gabiru de perto motivava a comunidade. Às 16h de uma quarta-feira útil, as arquibancadas receberam entre 450 e 500 torcedores. As músicas da torcida organizada eram uma versão adaptada daquelas entoadas nos estádios da Capital — destaque para “minha camisa rubro-negra e a gelada na mão”.
A partida era válida pela terceira rodada da Divisão de Acesso. Para o Tupi, seria apenas o segundo jogo: a estreia, contra o Panambi, fora adiada porque o adversário não tinha ainda juntado um time para disputar a competição. A decisão da Federação Gaúcha, aliás, contrariou bastante a direção do representante de Crissiumal. Pudera: acostumado a receber mais de 1,5 mil torcedores em partidas aos domingos, o clube terá os quatro jogos em casa do primeiro turno no meio da semana. Como o estádio não tem luz, o jogo tem de ser à tarde.
— Será que dá para vocês divulgarem no jornal uma solicitação nossa? Já que a FGF beneficiou o Panambi com o adiamento da primeira rodada, que pelo menos inverta o mando de campo. Assim, eles jogam na quarta-feira em casa, e tem iluminação. E no segundo turno, que vai ser domingo, nós fazemos em casa — pede Alberto Biasibetti, presidente do Tupi.
Dá. Feita, publicamente, a solicitação.
Quando o juiz apita o início de jogo, Gabiru está sentado no último lugar do banco. Protegido do sol por uma telha de zinco que serve como cobertura e fecha as laterais da casamata, ele não pode se encostar. Os mais de 30ºC que assolam Crissiumal fervem as paredes.
O jogo é nervoso. Leco grita, pede atenção, orienta os comandados, debate com o quarto árbitro, esbraveja nos erros. É amparado pelo preparador físico Sílvio Rogério da Silva. O Tupi joga melhor, domina, perde chances e vê, no último lance do primeiro tempo, o São Luiz sair na frente, para a festa de 15 torcedores que saíram de Ijuí e conviveram pacificamente com os donos da casa. A conversa no intervalo não surte efeito: aos 12 minutos da segunda etapa, os visitantes ampliam.
No que a bola toca a rede do goleiro Josemar Shrek (o apelido vem do desenho animado), Leco chama Gabiru. Ele teria pouco mais de meia hora para mostrar seu futebol e convencer a torcida de que a aposta era uma boa — e, quem sabe, buscar um empate.
Logo após sua entrada, o Tupi diminui o placar, gol de Paim. E chega ao empate quando Giliardi cobra um escanteio e a zaga do São Luiz faz contra. O árbitro dá o gol para o amigo de Gabiru.
Adriano Gabiru não teve participação direta na reação. Movimentou-se pelo campo, carimbou a bola (jargão da linguagem do futebol para “dar passes curtos”), arriscou um ou outro drible. Mas não gritou com ninguém, não orientou, não reclamou. Entrou no campo e jogou bola.
— Estava com friozinho na barriga. A gente sempre sente isso. Depois passa, mas o começo é igual todas as vezes — disse, enquanto tirava fotos com torcedores, colegas de time, jornalistas e até adversários.
Aos 39 anos, talvez tenha sido sua última estreia. Mas não foi sua última “resenha”.
Mais tarde, no Parque Balneário Amorim, dividiu uma cervejinha com Giliardi, Ílson e Ronaldinho Gramadense, que joga no São Luiz. Conversaram, analisaram o jogo, contaram histórias. Perto das 21h, a Associação de Colorados levou Gabiru a uma “reunião”. Desta vez, sem vazamento de vídeo.
Matéria publicada originalmente em 24 de março de 2017, no ZH Esportes.