texto: Paulo Cezar Caju | vídeo: Guillermo Planel e Daniel Planel | fotos e edição: Daniel Planel
Depois vocês não querem que o negão seja marrento. Hoje, pela manhã, no Sofitel, em Copacabana, recebi uma comenda do governo francês, a mais importante de todas. O próprio presidente do país, François Hollande, entregou. Tomamos café antes. Eu, ele, e meus amigos Jairzinho, Carlos Alberto Torres, Carlos Roberto, Búfalo Gil, Cláudio Adão, Paula Barreto, Lucy Barreto, Luiz Carlos Barreto, o Barretão, Elso Venâncio, Nélio Machado, Comandante da Marinha, Eduardo Monteiro, professor Francisco Campos, o advogado, Gabriel Machado e o chef internacional Rolland Villard.
Passei 12 anos da minha vida na França e me lembro quando, em 74, a seleção brasileira treinava na Alemanha e o Just Fontaine, nada mais do que o Just Fontaine, aproximou-se e perguntou se eu não gostaria de jogar no Paris Saint-Germain, que lutava para sair da segunda divisão. Mas preferi o convite do Olympique de Marseille, que tinha praia, tunisianos, marroquinos e argelinos, essa misturada parecida com o Rio e que para mim faz toda a diferença. Françoise Hollande divertiu-se com isso. Como pude trocar Paris por Marseille??? Lá tem praia, Françoise, lá tem praia, kkkkk!!!
Essa comenda, por sinal, tem a ver com isso, com essa relação cordial que sempre tive com eles e pela a luta contra o racismo, contra o terror, que vem massacrando aquele povo. O futebol é a ferramenta para levarmos esse discurso mais longe. E as Olimpíadas, agora, outra excelente oportunidade.
O mais engraçado de tudo é que após o convite, tudo certinho, o adido cultural pediu pelo amor de Deus para que eu não atrasasse, afinal era o presidente da França!!! Kkkkkkkkkk!!!! Só porque uma vez fui capa do L´Équipe pedindo carona na estrada. Havia namorado além do tempo e perdido a hora, e o ônibus, que levava o time para o jogo contra o Saint-Étienne. Esse caso ficou famoso na França. Mas pelo menos, apesar da correria, deixei o meu golzinho, de cabeça. Tudo bem que o Saint-Étienne meteu quatro, mas aí é outra história.
A verdade é que essa medalha mexeu muito comigo e, por isso, fiz questão de agradecer aos amigos que me ajudaram a vencer a luta contra as drogas. Claro que chorei nesse momento! Os Cajus também choram!!! Se não tivesse parado, teria morrido. Imagina Isso???
Quando podia imaginar, naquela época, no fundo do poço, que um dia fosse ser reconhecido por alguma coisa? Era um vagabundo, um drogado, um esquecido, um inconveniente. Mas lutei e venci. E veio a recompensa! Não do governo brasileiro porque aqui os valores são outros, mas da França.
Hoje senti a memória do futebol ser respeitada, hoje chorei e hoje, de passagem, vi minha imagem num espelho do hotel. Voltei e me encarei. Não era sonho, nem delírio da minha cabeça. Que bom, estou salvo!
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